Recebi a notícia da morte do prefeito Adroaldo Conzatti com muita tristeza e um sentimento de alguém que vai fazer muita falta no cenário da região. Ele era uma referência de liderança e suas opiniões moldavam o Vale do Taquari e ecoavam no Estado. Quem que nunca ouviu falar do Conzatti de Encantado? Todos perdemos um político que realmente trabalhava para o bem comum, para o público e que entendia como poucos o que é fazer política.
Era 26 de janeiro de 2018 quando o então prefeito Adroaldo foi até meu gabinete na Coordenadoria Regional de Educação em Estrela. Sem rodeios, foi direto ao ponto que o levara até mim e disse que tinha um desafio para apresentar e que não aceitava o “não” como resposta. E, mais, que esse desafio se iniciaria na segunda- feira já. Bom, não se iniciou na segunda-feira, mas um dia depois, na terça, começava a trabalhar diretamente ao seu lado como secretária de Educação de Encantado. Uma verdadeira faculdade de gestão e espírito público.
Com certeza, não será num texto que vou conseguir dividir com vocês essa lenda chamada Conzatti, mas pontuarei ou destacarei algumas delas que já foram cantadas, homenageadas em versos, linhas, vídeos e áudios. Mas, se se repete é porque faz jus mesmo à pessoa e pelo seu carinho e ligação com Arroio do Meio e região, achei apropriado falar um pouco mais e com propriedade já que convivi intensamente o período de dois anos com o prefeito.
A vida dele era Encantado. Confesso que o pensamento dele era voltado para a cidade, seu crescimento, o bem estar das pessoas. E para isso, iniciava seu dia já muito cedo na Prefeitura Municipal, e era o último a sair, por volta das 21 horas; isso todos os dias, inclusive finais de semana. Nos domingos acontecia um ritual bem interessante: visitava as obras em andamento com um bloquinho surradinho no carro porque sempre achava mais coisa ou algum detalhe que não estava correto. E olha que não me lembro de algum momento que não tinha 30 a 40 obras em andamento concomitantemente. Privava-se de diárias, de andar com o carro oficial ou outras benesses que o cargo ou a idade ou ambas poderiam lhe proporcionar. Deixava de comer e de ir em eventos familiares em razão de seus compromissos como prefeito.
Um gestor que sabia de tudo que acontecia na sua administração e cuidava de centavo por centavo do dinheiro público. Cobrava dos seus para que o atendimento fosse o melhor possível e dizia que o funcionário público tinha o dever de servir as pessoas. Defensor da meritocracia acreditava no trabalhar e colher os resultados. Frisava que tínhamos que ter foco para chegar à excelência. E o exemplo vinha dele mesmo; estava sempre se cobrando. E já sabíamos quando não estava tão bem, quando algo o desviava do seu foco.
Conseguia, como líder, capitanear o melhor de cada um. No meu caso, era um ótimo leitor e observador de pontuação, inclusive. Tinha uma escrita criativa e lia absolutamente tudo e, pode ter certeza, que da primeira vez se mostrava a ele e não estava bom; você ia lá fazia de novo e ai sim, ia avançando e ele ia avançando. Muito exigente. Mas isso te faz ler mais, querer mais, escrever mais, buscar mais parcerias, informações. E outra, nada de deixar para amanhã o que se podia fazer hoje.
Não era um orador nato, muito menos dócil nas palavras, ou elogios. Era tímido para expressar sentimentos, dificilmente falava deles. Não bajulava e não gostava que o bajulassem. Não expunha sua vida pessoal ou saia dando abraços. No entanto, dizia pelo olhar e provocava mudanças positivas nas pessoas e parceiros. Também, conhecia as pessoas logo nas primeiras horas de convivência, valorizava sobremaneira a confiança, a dedicação, o pioneirismo.
Era visionário. As ideias que tinha às vezes fazia com que eu passasse vergonha no alto dos meus nem 40 anos. Ideias que ele ouvia, lia, mais as experiências e com base nos melhores do mundo. Sempre dizia que não dá para se calcular por baixo e sim nos melhores. Tanto que foi com ele e graças a ele que tive uma das minhas experiências mais significavas na Educação, que foi ir e viver intensamente na cidade que é case de sucesso na área: Sobral, no Ceará.
O guri Conzatti tinha oitenta e um anos, mas uma vitalidade e saúde metal impressionantes. Corria em busca de suas metas. Sua memória o fazia ser um contador de histórias exímio. Causos de todos tipos, nos mais diversos lugares. Tudo era motivo de história e sempre tinha uma lição para extrair delas. Ah, piadista também, como poucos. Lembro-me um dia que caiu um dente meu; desde o porteio até os secretários ficaram sabendo desse “causo”.
Eu sempre vinha para casa contando uma história dele para meu pai, que já esperava por elas. Dessa vez não terão mais essas histórias. Mas lembro em que uma das últimas conversas que tive com ele, me agradeceu muito pelo trabalho e metas alcançadas em Encantado na área da Educação: agora ainda vejo a colheita; alunos com tablet até o nono ano, datashow em todas a salas, Escola de Formação. E ainda me disse: manda um abraço ao teu pai, que me ajudou a fazer tantos votos nos idos dos anos 90, quando concorri a deputado federal (olha que faz tempo)….
Vejo no seu filho querido, amigo Gilson Conzatti, o andar da carruagem na política, e tomara que possa trabalhar com ele de novo pois carrega muito do seu pai.
Adroaldo, gratidão!