Já escrevi inúmeras vezes aqui sobre minha frustração em não saber cozinhar. Morei sozinho por muito tempo quando deixei Arroio do Meio para morar em Porto Alegre. Éramos oito homens em um apartamento antigo de dois quartos que acomodavam dois beliches cada um. Pouco depois mudamos para um imóvel melhor. Eram cinco ou seis “barbados”, todos – como antes – oriundos da terrinha.
Nos finais de semana meu único parceiro era Carlos Vicente Petry, um irmão que a vida me deu que mora no Rio de Janeiro com a sua queridona Carolina Wist, a enteada Bibiana e o paparicado neto Tiago. Vicente era a “salvação da lavoura” na cozinha. Massa com molho Pomarolla era uma das especialidades do amigão, quase sempre aos sábados. Aos domingos íamos à Churrascaria Chimarrão, na Avenida Pernambuco, cujos proprietários eram amigos da lendária Nova Bréscia.
Em tempos de pandemia que me impõe o confinamento que já dura 14 meses, um dos poucos privilégios é almoçar em casa todos os dias. Além dos pratos gostosos, a “hora do rango” é o momento para atualizar fofocas em dia, planejar o resto do dia e relaxar.
Sei que cada ingrediente comprado no super
será transformado em deliciosos pratos
As mulheres da casa – minha mulher e filha – são craques na pilotagem do fogão, micro-ondas e outros equipamentos. Botam no bolso estes chefs metidos à besta que desfilam termos difícil na tevê. Muitas vezes, quando a lista do supermercado está grande, elas tiram da cartola pratos incríveis feitos com o que tem na geladeira. Quase sempre são pratos simples, mas cujo sabor impede manter as pazes com a balança.
O perfume exalado da cozinha envolve toda a casa no final das manhãs. Também enche de inveja e de ciúmes a vizinhança. Alguns moradores já comentaram comigo nos frugais encontros de garagem:
– Puxa vida… Na tua casa, quando não é churrasco, é aquele aroma de comida caseira feita no capricho! – Segredou um vizinho, coberto de razão.
Vez por outra Cármen e Laura surpreendem preparando lasanhas supimpas, hambúrgueres caseiros e massas ao molho de quatro queijos e de bacon. O sofá, meu escritório das 7h às 21h, sofre com o peso que não cede de jeito algum!
Durante toda minha vida adulta fiz refeições na rua. No começo é uma rotina divertida, de experimentar novidades e lugares. Ao longo do tempo, porém, as opções se repetem, falta imaginação e o comodismo toma conta.
Comer em restaurante, bar ou lancheria também demanda despesa que, com a pandemia, foi transferida para os gastos no supermercado. Ao chegar ao caixa, a irritação é inevitável. Mas depois, de cabeça fria, lembro que cada ingrediente será magicamente transformado em pratos dignos de cardápios internacionais. Aí fico rindo sozinho.