Nos finais de semana dou um tempo no noticiário de rádio. Restrinjo os conteúdos jornalísticos à leitura dos jornais do dia. Em vez de tragédias e escândalos políticos, me dou ao luxo de ouvir música. Depois de cevar o chimas e recolher os jornais, sintonizo o canal 300 da NET para oscilar entre os estilos romântico, anos 60/70/80/90, rock e rock clássico, blues e, na hora que o churras, está bombando, samba/pagode.
Conforme o humor, costumo cantar em voz alta… para terror dos vizinhos e da família, incluindo o cachorro que não admite concorrência para seus uivos. Dia desses, minha filha Laura ficou de olhos arregalados. Curioso, perguntei o motivo.
– Pai, como tu conhece tantas músicas e sabe as letras de cor? Foi de tanto ouvir os sucessos no teu tempo de guri e adolescente? – indagou.
Antes de responder que “já no meu tempo” a gente ouvia muita música, resolvi dar uma aula de história sobre hábitos musicais. Expliquei que sou da época dos LPs, os chamados “bolachões”. E que muitos exemplares traziam– principalmente no caso dos álbuns duplos – um suplemento contendo a letra de todas as músicas, como nome do autor e dados técnicos.
Os amigos e as letras ficaram para sempre
em nossos corações e na nossa memória
Lembrei que era comum percorrer uma vez por semana as lojas de disco para conferir a chegada das novidades. Em Arroio do Meio, a loja do Renato “Nano” Kist era “top nos lançamentos”. Já em Lajeado havia diversas opções, mas o deslocamento demandava uma logística muito bem planejada, apesar da pouca distância. Muitas vezes usava o dedão, ou seja, ia até o trevo para pedir carona.
Comprar um LP era um investimento porque custava caro. Por isso, a escolha era como ter uma única bala na arma: o tiro precisava ser certeiro. Do contrário, por muito tempo o engano era motivo de arrependimento e de prejuízo. Sem falar da raiva toda vez que olhava para a estante que acolhia os discos.
Os empréstimos eram comuns, apesar dos riscos na forma de arranhões que, quase sempre, “vitimavam” a faixa que abrigava as melhores músicas. Muitas amizades foram arranhadas por isso. E pela não devolução do LP.
Meu caso inesquecível envolveu o sucesso “Frampton Comes Alive”, adquirido graças a muitas economias e gorjetas numa época sem mesada dos pais. Este álbum duplo do guitarrista e cantor Peter Frampton foi lançado em 1976. É considerado até hoje o disco gravado ao vivo mais vendido da história da música. Ouvi muito, os dois bolachões da embalagem, aos berros. Até o dia em que tive a péssima ideia de emprestar a preciosidade que jamais foi devolvida.
Sentar no chão, fechar os olhos e tentar reproduzir a canção, quase sempre em inglês, era uma competição entre os amigos. Muito diferente das ferramentas, plataformas e dispositivos atuais. Mas os amigos e a letra ficaram para sempre. No coração e na memória!