Quando eu era criança em Pouso Novo e meu pai, professor da escola estadual, lembro do alvoroço dos sábados de manhã. Sábado de manhã era dia de faxina na escola. Lembro de ir lá também, mesmo sem ter idade ainda para me considerar aluna. Era bom estar junto. Com sorte sobrava uma vassoura e eu podia pensar que ajudava.
Acredito que o mutirão realizava muito mais do que limpeza.
O mutirão confirmava a convicção de que a escola nos pertencia. Quem pensaria que a escola era do governo?
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A semana passada foi melancólica – para dizer o mínimo. Foi melancólico ver que o recebimento de alunos ficou prejudicado. Em alguns casos, por falta de reformas no assoalho de salas. Depois de mais de um ano fechadas, na hora de abrir para as crianças, faltaram condições.
O tema não mereceu o destaque necessário. Existe aí uma soma de dificuldades, esperando solução. Se o problema se reduzisse à burocracia do Estado, o caso não seria tão grave. Para mim, não é só o assoalho das salas que está danificado. Há outro fundamento frágil. Nós estamos confusos. A quem mesmo é que pertence a escola? De quem a escola é?
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Fico pensando que a escola boa tem na base dois componentes indispensáveis.
Primeiro componente: a escola é um time formado por alunos, professores, pais, funcionários e comunidade próxima – e não tem muita importância se é o governo ou não quem paga os professores e os funcionários. A escola pertence a esse time. Todo o time tem o privilégio de participar da maravilhosa aventura de aprender, de evoluir. Todo o time sabe que a maravilhosa aventura não se dá como milagre. Pede esforço e compromisso.
Segundo componente: a escola (o time) ensina fazendo. Ou seja, a escola faz aquilo que ensina e ensina exatamente por fazer aquilo que está ensinando. O perigo é espalhar no time a sensação de estar fazendo cera.
Por exemplo: a escola quer ensinar a levar a sério a aprendizagem – aprender é mudar comportamento, é evoluir. Por isso, leva a sério aquilo que é condição para evoluir. A escola reconhece a importância de itens como, por exemplo: o silêncio que favorece a concentração, a lealdade (isto é: o repúdio à cola), o zelo pelo ambiente, etc. e cuida disso o tempo todo. Se estes aspectos são negligenciados, a percepção da importância da aprendizagem sofre abalo.
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A boa escola vai desenvolvendo um jeito próprio de atuar como time e o time em ação usufrui dos benefícios de quem vence o campeonato.
Assim, quando der buraco no assoalho, será apenas um buraco. O time encontrará maneira de fazer seguir o jogo.