Sou do tempo do caderno de recordação e dos diários onde as gurias registraram seus amores, dores, sonhos e decepções da adolescência. Tudo muito secreto! Uma das poucas concessões que elas faziam a nós, guris, era fazer um registro no caderno de recordação. O diário, não! Afinal, era um documento sagrado, ultrassecreto, guardado a sete chaves e escondido em lugar conhecido apenas pelas “amigas do peito” que compartilhavam dos idílios proibidos.
Apesar da batelada de aulas de caligrafia que tive aos sábados de manhã na Escola Luterana São Paulo, optei pela “letra de imprensa” ou “letra de fôrma”, no lugar da letra cursiva depois de alguns anos. Meu grande amigo Clayton Schuh – goleiro talentoso e dotado de uma inteligência ímpar! – mantinha um capricho incrível na escrita que despertava a inveja até as gurias.
Notei que ele só usava letra de imprensa e passei a imitá-lo. Eu também usava régua e caneta vermelha para sublinhar/destacar trechos importantes dos textos. Minha dedicação trouxe vantagens. Na hora dos trabalhos em grupo – que começava com a disputa na hora de pegar ir à biblioteca do Colégio São Miguel porque geralmente só havia um volume de cada obra – o trabalho pesado ficava com os colegas.
Minha “letra bonita” permitia que me ocupar com outros conteúdos – alguns impróprios para a idade, confesso! – enquanto a galera ralava na pesquisa. Depois de todo material coletado e feita a triagem chegava minha vez de botar tudo no papel. Sem computador ou máquina de escrever – que foi o primeiro computador com impressora acoplada! – passava horas “passando a limpo” o trabalho.
Escrever diários está infinitamente mais fácil.
Afinal, basta “abrir uma pasta no computador
O “caderno de recordações” permitia pôr em prática toda a criatividade dos amigos. Alguns usavam lápis de cor. Outros preferiam as canetinhas hidrocor, uma preciosidade, mas cujo preso tornava este luxo proibitivo. Outros ainda usavam aquelas figurinhas de colocar na água para afixar nas folhas do caderno ou adesivos muito comuns à época.
Atualmente escrever diários é infinitamente mais fácil. Basta “abrir uma pasta no computador” para registrar memórias, impressões, sentimentos e episódios marcantes do cotidiano. Desisti de insistir com meus filhos para adotar este hábito lembrando a importância histórica daqui alguns anos. Imagine mostrar para filhos e netos os acontecimentos desta pandemia maluca.
Eu, jornalista, uso as crônicas para compartilhar minhas impressões. Com frequência recebo mensagens por e-mail sobre meus escritos em cinco jornais do Interior, o que me enche de orgulho. E também de medo, afinal, não raro surgem críticas e observações sobre equívocos cometidos, o que é construtivo.
No futuro, quando o planeta quiser saber sobre esta funesta pandemia, a internet será fonte óbvia. Com uma vantagem: basta procurar o conteúdo que mais combina com a ideologia, os pensamentos e a orientação política do pesquisador. Afinal, mais do que nunca “Não existe verdade, só existem versões!”