Esse tempo maluco de confinamento compulsório que já soma mais de um ano apenas exacerbou algumas doenças que acometem o ser humano já há algum tempo. O egoísmo tem sido uma característica humana marcante nas últimas décadas. Ajudar a quem precisa soa como sinal de fraqueza ou de sinal de consciência pesada.
Chegamos ao cúmulo de transformar em manchete episódios cotidianos em que as pessoas devolvem uma carteira com dinheiro e documentos. Isso dá bem a noção da decadência moral que aflige a humanidade. Outro acontecimento considerado um “ponto fora da curva” é deixar um bilhete quando alguém bate no carro estacionado de um desconhecido numa rua qualquer.
O confinamento deflagrou também uma crise de doenças mentais da qual pouco se fala. Casos de alcoolismo, angústia, mudança de humor sem motivo aparente, depressão e suicídios se multiplicam. Apesar da predileção de destaque às notícias negativas, a grande mídia não fecha os olhos para os dados para embasar reportagens sobre este mal que castiga milhões de famílias Brasil afora.
As pessoas empregadas reclamam da carga excessiva de atividade, quase sempre motivada pelo home office que surgiu como novidade e solução, mas tem trazido cansaço emocional. Sem horário e rotina determinada, as obrigações profissionais tomam o dia anterior. Já quem está desempregado sofre de angústia e ansiedade, seguidos de depressão por não ter como colocar comida dentro de casa.
Tomara que tudo isso deixe aprendizados
capazes de nos tornar pessoas melhores
A incerteza é generalizada. Aos poucos algumas atividades rotineiras são abertas para, em seguida, serem novamente suspensas, sem prazo de retorno. A economia sofre, as pessoas são submetidas a provas diárias de sobrevivência inimagináveis há um ano. Dormir há noite sem ter noção do que nos espera é uma tortura desumana.
A solidariedade talvez seja o contraponto que consola as agruras do cotidiano. É comovente ver a quantidade de campanhas e de pessoas que jamais arregaçaram as mangas para ajudar. Até os corações mais duros entenderam que o momento de ajuda, apoio e atenção com todos que têm menos ou nada.
São dicotomias de tempos estranhos, diferentes e que deixarão sequelas por várias gerações. Como aqueles que enfrentaram os horrores da guerra, nós vamos recordar situações inusitadas que pensamos jamais encarar.
Tomara que tudo isso deixe aprendizados capazes de nos tornar pessoas melhores, seres humanos mais comprometidos com nossos semelhantes e dedicados a ajudar. Do contrário, de nada terão servido as agruras que este misterioso (será?) vírus nos impõe a cada dia.