Comemorado na última segunda-feira, o dia dos Avós rendeu boas matérias na TV, jornais e rádio.
Eu, que sou avó de cinco, fiquei bem empolgada, claro.
É certo que a data mexe comigo por conta das vivências atuais. Mas, não apenas. As memórias bem antigas falam muito.
A minha principal recordação se liga à avó italiana, a Nonna.
Em relação à Nonna, a lembrança é mesmo forte. Eu sentia a presença dela como a solidez da casa. Tenho que explicar melhor. A minha Nonna era mãe de onze. Quando os primeiros netos lhe chegaram, os filhos pequenos eram bem pequenos. Meu tio Nico – vê só – nasceu três meses antes que eu. Tu podes imaginar a trabalheira para dar conta dessa turma toda, nos meses de férias que netos passavam lá. Isso, além da rotina de tarefas da colônia. As condições eram difíceis. Não havia energia elétrica nem empregados. Era agricultura familiar no duro.
Então, quando eu falo na avó que eu tive, não pense que estou me referindo aos paparicos de que tanto hoje em dia se fala. Nada disso. Naquela situação, a avó não tinha tempo para mimar os netos. Definitivamente, não são os paparicos que ficaram na lembrança. A permanência da figura da avó em mim é de uma simplicidade arrasadora…. Simplesmente, era bom estar perto da pessoa que a avó era. Era bom acompanhar na horta, na cozinha, na roça, onde quer que fosse. Só isso. (Só?)
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Para você avaliar o sentimento, aqui vai um caso. Nunca gostei (e isto vale ainda hoje) de leite no café. Em casa só tomava café preto. Mas a avó não queria saber. Ela enchia a minha xícara como fazia com a dos outros: muito leite e um pingo de café. Pronto! criança tinha que tomar leite. O que fazer? O que fazer? Era impossível desgostar a vó. Tudo, menos deixar a vó chateada. Então eu ia dando bicadinhas, ia me amarrando, me amarrando, mais uma bicada e, por fim, se a vó virasse as costas, num zás, derramava o líquido pela janela a fora. Ufa!
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O nascimento dos netos produziu um grande impacto em mim. Trouxe a sensação da real continuidade desta vida. O passado e o futuro se juntavam. Era o tempo que voltava, o tempo que passava e o tempo que viria – tudo meio misturado.
Veio, igualmente, a consciência muito clara dos ciclos que se fecham, dos capítulos que começam e que chegam ao seu fim. Tive a sensação de renascer e também a consciência de avançar mais um degrau e passar para a terceira geração. Outros personagens iam ocupando o meu lugar na cena. Vida se cumprindo…
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Filosofias à parte, gostaria que, ao falar de mim, um dia, meus netos deixassem os doces e os agrados em segundo plano e que lembrassem das horas que passamos juntos. Lembrassem, principalmente, da proximidade boa e alegre que pudemos ter.