Aqui vai uma historinha.
Quando Jeanne Altmann concluiu o Ensino Médio, em 1957, estava planejando entrar na faculdade de Matemática e pediu de presente à avó, uma régua de cálculo. A avó concordou, desde que a régua fosse caber na bolsa de mão de Jeanne.
A mensagem era clara. A neta podia estudar, mas seria bobagem pensar em seguir uma carreira. Dela se esperava que casasse e tivesse uma vida “normal”.
Hoje, Jeanne é professora emérita na Universidade de Princeton – ocupando uma das posições de mais prestígio no mundo. Ela é, inclusive, forte candidata a ganhar um prêmio Nobel.
Como tudo isso aconteceu?
Seguindo o que a avó queria, Jeanne casou bem jovem com o biólogo Stuart Altmann. Casou, ainda antes da formatura em Matemática. Depois, já com o filhinho Michael de dois anos e um outro a caminho, a família se estabeleceu no interior da África, para Stuart realizar um trabalho de observação de animais. Em 1971, o casal criou o Amboseli Baboon Reserarch Project, no Quênia, que se tornou um dos mais importantes centros de observação de animais no mundo. Desde o começo, Jeanne se dedicou a ajudar e ajudou muito. Valendo-se dos conhecimentos de matemática, ela desenvolveu um método para realizar as observações e para registrá-las. Este método continua em uso até hoje. É o modelo internacional para organizar os registros.
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Muita coisa mudou na vida de Jeanne ao longo dos anos. O que não mudou foi sua dedicação ao Amboseli Baboon Research Project, que, aliás, ela dirige até o presente. Ali coordena os estudos sobre o comportamento das fêmeas de macacos, as quais vêm sendo observadas individualmente e ao longo de sete gerações.
As conclusões produzidas são extraordinárias. Primeiro, fica demonstrado um perfeito paralelo entre o comportamento humano e animal. Por exemplo, a observação comprova que as macacas não têm interferência apenas sobre as próprias vidas, mas que seu comportamento repercute sobre as próximas gerações. Os estudos deixam claro que as macacas se ajudam entre elas – como as amigas mulheres fazem entre si – e isto aumenta as chances de sobrevivência para os filhotes. Mas não só, quando a mãe se sente ajudada, está comprovado que os filhotes crescem com mais saúde física e mental e isso será visível durante toda a vida deles.
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Entre outras coisas, a história de Jeanne Altmann mostra que as mulheres – como as macacas – precisam de ajuda para criar bem seus filhos. E não apenas ajuda com as crianças, mas precisam de suporte emocional para elas mesmas. Só assim podem dar conta da tarefa mais importante que existe: esta de conduzir, formar as futuras gerações.
Às vezes as coisas dão errado e as mães humanas não conseguem cuidar das crianças. Vemos casos assim todos os dias nos jornais. Mas aí, é bom nós todos, como sociedade, nos perguntarmos onde falhamos, em vez de simplesmente apontar para a ré, acusá-la e enfiá-la na cadeia.