O setor do turismo juntamente com o de eventos, foi o que mais sofreu impactos em decorrência da pandemia da covid-19. A expectativa é de que as viagens internacionais sejam retomadas até o fim do primeiro semestre de 2022.
Enquanto isso, de acordo com as principais agências de Arroio do Meio, os turistas têm optado mais por destinos na região Sul do país, especialmente por viagens ‘bate-volta’ e passaram a valorizar mais o Vale do Taquari.
Cresce procura por pacotes privativos
A proprietária da agência Mundo Aberto, Verônica Martineli, 24 anos, abriu empresa em maço de 2020, alguns dias antes da pandemia vir com força. A instabilidade em torno de decretos, além de todo o cenário da pandemia em si, acabou desestimulando o interesse por viagens, mesmo em períodos menos críticos.
Segundo ela, a procura por pacotes retomou no segundo semestre deste ano, e chega a 25% de um fluxo considerado normal. Outra mudança é o equilíbrio entre viagens privativas, com no máximo 20 pessoas, e roteiros com grupos maiores. “Antes da pandemia, roteiros com grupos maiores representavam 80% dos negócios. Agora, a escolha das pessoas é permanecer mais com seu próprio círculo de convívio. Os hotéis também estão sendo mais compreensivos e não exigem mais grupos de 40 pessoas para negociar taxas diferenciadas. A parceria entre agências viabiliza alternativas competitivas”.
Outras mudanças pontuadas por Verônica são a preferência de viajar pela Região Sul do Brasil, com menor número de pernoites, ou até mesmo sem pernoitar. Nos pontos turísticos, a adoção de normas de distanciamento seguro e sanitárias é empregada em todos os estabelecimentos, porém, de forma mais rígida no RS, em comparação com os outros SC e PR, que estão mais flexíveis, inclusive na ocupação dos ônibus, que somente nesta semana liberou em 100%.
A busca por voos nacionais para viagens em 2022 também está crescendo. “Infelizmente, as tarifas aéreas sofrem interferência direta do dólar que, no momento, está elevado. Na região Sul, apenas alguns pontos turísticos mais exclusivos, como a Maria Fumaça, Skyglass e Trem dos Vales aumentaram os preços de forma mais expressiva para recuperar a perda de receita. Mas a maioria dos pontos turísticos, restaurantes e empresas de transporte, acabaram reajustando somente a inflação, pois sabem que a concorrência é grande”, explica.
De acordo com Verônica, idosos com mais de 75 anos ainda estão evitando viagens, e o principal público que está viajando varia entre 30 a 70 anos de idade. “Também há pacotes específicos voltados para os mais jovens. Até então, estes públicos partiam de um padrão de que excursões eram para terceira idade. Hoje, já existe e é crescente a interpretação de que a excursão é uma forma prática, segura e mais econômica de viajar, seja em grupos privados (família, amigos) ou participando de grupos abertos. O pagamento também é facilitado. Seja para viagens imediatas ou programadas. Para viagens nacionais, geralmente ocorre o parcelamento em até 10 vezes. Mas em algumas promoções especiais, como o Nordestão, que irá percorrer o litoral brasileiro em 21 dias, programado para 2023, o parcelamento pode ser feito em até 24 vezes”.
Verônica reforça a importância dos turistas se conscientizarem da necessidade do seguro viagem. “Não pode ser encarado como despesa e sim como uma necessidade diante de um cenário de incertezas e riscos gerais. O valor é irrisório, muito próximo a uma garrafinha de água por dia”.
Apesar da retoma ainda estar tímida, a empresária observa que a saída do primeiro cruzeiro dos EUA e a reabertura de alguns países europeus, sinalizam uma luz no fim do túnel. A expectativa também fica por conta da reabertura dos países do Mercosul, destino próximo para estadias de períodos mais curtos. “Além da vacina, possivelmente vão exigir testes comprovando que as pessoas não estão com o vírus ativo”.
Pandemia nos mostrou nichos até então inexplorados
A Meneghini Viagens chegou a ficar 189 dias sem realizar nenhuma viagem, entre março e setembro de 2020. “Em muitas situações foi realizado o cancelamento e feita a devolução do dinheiro. Em outras, foi possível o reagendamento. Algumas viagens foram reagendadas até quatro vezes. Claro que algumas pessoas acabaram desistindo devido a outras agendas, mas foi possível encaixar outras pessoas”.
Uma decisão acertada da empresa familiar, fundada há três anos, foi apostar num nicho mais popular e local, democratizando o acesso ao turismo a um público que não vinha desfrutando de viagens. Isso levou a empresa a crescer mais durante a pandemia do que anteriormente e definir o foco de atuação. “Eram pessoas que tinham como lazer as festas comunitárias, e não sabiam que era possível fazer viagens com um investimento relativamente baixo. Além disso, viajar de ônibus é muito mais cômodo, confortável e descontraído, sem o compromisso de utilizar um automóvel. Tradicionalmente, havia um conceito de que as agências de turismo eram voltadas para um público específico. Estamos mostrando que também se pode ir à Serra Gaúcha, andar de Maria Fumaça, conhecer vinícolas e contemplar um bom almoço num restaurante, com direito a aperitivos, entradas, prato principal, sobremesas e um cafezinho. Certamente deixamos de viajar no passado, porque ninguém nos deu essas alternativas. Muitas pessoas estão se emocionando com novas experiências, como conhecer o mar pela primeira vez”, revelam os proprietários Bruno Ricardo e Madiane Meneghini.
Em meio à pandemia, eles detectaram que muitas pessoas, que antes viajavam para o exterior, estão se maravilhando com as belezas naturais, gastronomia e qualidade no atendimento dos empreendimentos do Vale do Taquari. “A estimativa é de que, assim que a obra do Cristo Protetor de Encantado ficar pronta, mais de 100 mil turistas venham para a região mensalmente. Temos muitas outras opções, como o Museu do Pão, grutas, santuários e o Trem dos Vales, para o qual já fechamos uma sequência de passagens. Temos a convicção de que quem investir no turismo, vai se dar bem. As pessoas querem o novo e o Vale vai ser a nova rota”.
Eles reforçam que as pessoas ainda estão desconfiadas com a hotelaria e, por isso têm preferido viagens bate-volta. “Nós também temos receio e agimos com cautela”. A tendência é de que a busca por se especializar em viagens locais seja aprimorada, mesmo assim, a agência mantém roteiros clássicos como parques, o litoral, Serra Gaúcha e roteiros em todo o RS, e tem grande expectativa em torno do retorno dos grandes eventos, que era uma das especialidades da empresa no período pré-pandêmico. “Gostamos de atender com simplicidade, sem perder a qualidade e nada mais tranquilo para os pais do que os filhos irem às festas com segurança e comodidade. Não é mico pegar ônibus”.
Consolidação do turismo do Vale do Taquari
O presidente da Amturvales Leandro Arenhart revela que a região está sendo descoberta como uma nova rota do turismo, em âmbito estadual, nacional e mundial. Só o Cristo Protetor, que ainda está em construção, tem recebido 1,5 mil pessoas por fim de semana em visitas guiadas. “Temos outros indutores como o Trem dos Vales e o Viaduto do 13, e atrativos em todos os 38 municípios da região, que é muito bem posicionada geograficamente, que vão consolidá-la como segundo principal roteiro do RS, perdendo apenas para a Serra”, ressalta.
Em 2020, que só teve os meses de agosto a dezembro mais flexíveis em torno dos decretos, o Vale do Taquari recebeu 140 mil pessoas, sendo 60% de fora. Estatísticas que devem crescer expressivamente nos próximos anos. “O movimento da ERS-130 no fim de tarde de domingo confirma a crescente. Isso que o público de mais idade, que será o principal a visitar o Cristo, ainda não está circulando. O que está ocorrendo agora é resultado de um trabalho de mais de 20 anos. Há muitos empreendedores faturando e outros prontos para atender a demanda dos turistas. Há cerca de 80 tipos de negócios que podem ser enquadrados. É necessário que interessados em empreender busquem consultorias nos Conselhos Municipais de Turismos, na Amturvales e no próprio Sebrae. Querendo ou não, é a iniciativa privada que faz acontecer. Há muitos roteiros se estruturando. O Entre Vales e Arroios de Arroio do Meio é um dos exemplos. Fora isso, temos muitos estabelecimentos prontos, que só precisam valorizar seus produtos e serviços, com melhor apresentação e atendimento, sempre buscando a melhor qualidade”, avalia Leandro.
Em 22 de setembro, a Amturvales completa 26 anos e realizará evento semipresencial, que terá como foco, divulgar os atrativos da região.
Em constante diálogo com contatos na Europa
A proprietária da Schöntur, Délcia Gabi, acredita que a retomada do turismo internacional deve ser lenta. Isso porque alguns países ainda não aceitam brasileiros e também exigem que o turista esteja imunizado com vacinas específicas. “Estamos em constante diálogo com nossos contatos na Europa, para saber como estão funcionando os pontos turísticos, hotéis e logística de passageiros”.
A expectativa é por uma flexibilização gradativa, com a entrada de estrangeiros a partir de 2022, que possibilitará a retomada de viagens até o fim do primeiro semestre. Apesar do foco da Schöntur ser o turismo internacional, a empresa retomou viagens rodoviárias pela Região Sul do país, que são consideradas tranquilas.