O mundo mudou muito.
Aos 61 anos, a frase é uma das minhas preferidas e cai feito uma luva quando o assunto é 7 de setembro. Lembro saudoso dos tempos da Escola Luterana São Paulo e dos ensaios diários da banda comandada pelo professor Aldino Suhre.
Ser integrante da banda era um rito de passagem da condição de guri para adolescente. De tambor em punho éramos olhados de um jeito diferente pelas gurias, apesar do cansaço em repetir, repetir e repetir manobras, toques e coreografias.
A Parada da Mocidade era ocasião de encontro da comunidade ao longo da Rua Doutor João Carlos Machado. Ali estavam os familiares, amigos, vizinhos e até pessoas desconhecidas. Além dos estabelecimentos de ensino estavam presentes os clubes de serviço, tradicionalistas, clubes de futebol, empresas e todas as entidades representativas da nossa então pequena comunidade.
7 de setembro era dia de acordar cedo, dar o último brilho no sapato – quase sempre novo! A noite da véspera era de excitação, de poucas horas de sono à espera do amanhecer. Nem a chuva impedia o desfile e ninguém reclamava. Tudo valia para celebrar a data da independência do Brasil e comemorar com os amigos.
Talvez fôssemos alienados, mas hoje somos
escravos do ódio em uma pátria dividida
Bicicletas, motos, carros alegóricos, veículos em geral, jardins e sacadas eram ornamentados de verde-amarelo em celebração à pátria. Depois do desfile todos confraternizavam, famílias amigas se reuniam para fazer churrasco e dar continuidade ao feriado.
Décadas depois, praticamente nenhum município realiza o desfile de 7 de setembro. Não entrarei em polêmica sobre a radicalização que tomou conta do país, carimbando todos que gostam do Brasil de bolsonaristas/fascistas. E aqueles que vestem vermelho de comunistas/esquerdistas.
Todos perdem com este clima belicoso que criou a torcida do “quanto pior, melhor”, indiferente aos prejuízos daqueles que sempre perdem: os mais necessitados. Todos os programas e iniciativas governamentais exitosos incomodam, mesmo que beneficiem a população carente. Do outro lado, erros e defeitos são ignorados ou minimizados.
Talvez fôssemos alienados naquela época, mas hoje, o que somos? Escravos do ódio em uma pátria dividida que gasta sua energia para destruir, criticar e bombardear os “inimigos”. Não temos guerras, furações/tremores/tsunamis ou revoltas. Se tivéssemos, talvez seríamos mais unidos e solidários para construir um Brasil mais justo.