A violência do cotidiano vai muito além das vidas roubadas à queima-roupa. Está acima dos pelotões de marginais armados, das falcatruas que nos assaltam e envergonham, ou dos ataques terroristas que assistimos, horrorizados, aos poderes constituídos. Pior do que isso, de certa forma, essa violência assombra muito mais quando gente, a recitar trechos bíblicos e armas na mão, nos intimida com a raiva dos que confundem ódio com bandeiras ideológicas e a razão, com mentira a qualquer custo. Qual o sentimento que deve nos guiar nesse momento confuso que a cena nacional nos imprimiu?
Meu filho, aos 16 anos, se descobriu poeta e cronista. E da pureza cristalina de seus textos gravei uma mensagem que combina perfeitamente com os dias de hoje: “O amor pode não ser a vitória em marcha. Mas é o que dá nome à batalha”. Em resumo é isso. O resto é uma catarse de frustrações oportunistas de poder, de incontido desprezo ao que não lhes é semelhante.
O nome da batalha é o sentimento preso à garganta, como uma espécie de infecção afetiva, a provocar febre, rouquidão e que alivia apenas com aquela espinhosa declaração. “Eu te respeito, porque somos semelhantes em trilhas diferentes ou opostas”.
Aos que se chocaram com tanta aspereza, tanta arma apontada às liberdades, eu desejo do fundo de meu veterano coração, que continuem assim, valentes guerreiros da paz. Por favor! Não vamos nos entregar por ações assustadoras, mas que são miúdas em caráter e propósito. Afinal, como sabiamente canta John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto estamos ocupados com outras coisas. Vamos dar trabalho à reconstrução. Cada um de seu jeito, mas cada um por todos.
Eu mesmo venci um caminhão de rancores, acumulados pelo cotidiano desta vida que se divide entre a torpeza e as minguadas, mas compensadoras realizações, e continuo a minha luta contra o lixo descartável da inveja, do sentimento errático de onipotência e de um egoísmo vil, que nos atordoa a cada novo dia. Quero ver sumir essas teses terroristas que arrebanham incautos e oportunistas.
Por enquanto, a poeira dos falsos pastores e seus rebanhos, sedentos por nos impor sua vontade via terror, ainda assusta. Pior, quando vemos amigos a aplaudir o que seria um golpe em nossa autodeterminação, quase sucumbimos à flor carnívora do ressentimento. Mas um único pensamento amoroso, uma flor singela e uma declaração de sincero e fraterno amor, declarada espontaneamente, na mais improvável das horas, pode acertar os ponteiros deste relógio maluco que vem a orientar a vida nesses dias incertos.
Apesar da brutal cólera que nos cercou e ainda ameaça, está provado que esses odiosos humanos não representam a maioria que pensa, basicamente, no ir e vir, tranquilamente e sem fúria, a seus destinos. Escolhidos livremente, nunca impostos. Que o amor vença a batalha contra o ranço e a truculência!