Aos 33 anos, a analista de Relações Internacionais Cissa Theves nunca provou carne. Natural de Arroio do Meio, ela mora em Porto Alegre e é vegetariana pelo incentivo da mãe.
Cléa, a mãe vegetariana, optou por dispensar a carne da dieta da filha desde a infância. A jovem conta que se adequou desde pequena a este estilo de vida, que sinaliza um propósito: desestimular a exploração animal e ela jamais pensou em desistir em todos esses anos. “Nunca tive dúvidas quanto a isso.”
Cissa consome alimentos funcionais que incluem vegetais, legumes, feijão, proteína de soja, grão de bico, castanha de caju, espinafre, beterraba, quinoa, lentilha e grãos integrais, o que aumenta a presença de vitaminas, minerais e fibra em seu organismo.
Entre os benefícios, está a diminuição de fatores de risco de doenças cardiovasculares, menos colesterol e aumento da saciedade. Plantas e grãos integrais estão associadas à diminuição do colesterol total, LDL e HDL.
Cissa não faz isso de forma impensada: é acompanhada por uma nutriconista esportiva, especialista em alimentação e treina durante a semana. Diante desse suporte, sua dieta é balanceada para ter nutrientes no organismo.
TUDO COMEÇOU NOS ANOS 90
Em 19 de abril de 1991, o Jornal O Alto Taquari publicou uma reportagem com a mãe de Cissa sobre o vegetarianismo. Na época, ela contou que começou a ser adepta à não alimentação de carne após sofrer de uma doença na pele. Como a mudança de hábito também cessou a enfermidade, Cléa continuou a alimentação saudável e também criou a filha Cissa nesse universo.
“Para mim deu muito certo. Familiares foram contra, mas a mãe nunca abriu mão disso. Sou muito grata pela minha mãe insistir tanto na minha educação alimentar, por ser meu maior exemplo e, principalmente, por ter sido uma visionária”, diz Cissa. Nos anos 90, as dificuldades foram maiores que hoje, pois não havia restaurantes especializados e as pessoas não tinham a consciência da necessidade da alimentação saudável em comparação com os dias atuais. Outro cuidado que a mãe de Cissa teve com ela desde pequena, foi evitar produtos industrializados e frituras na sua alimentação.
Ao longo da caminhada, Cissa encontrou algumas dificuldades. Quando pequena, na cantina da escola, todos os alimentos continham carne e não havia outras opções a não ser doces e frituras. “Mesmo assim, não pensei em desistir. Uma vez a mãe disse que essa seria a alimentação do futuro e que, cada vez mais, as pessoas iram aderir a isso. É um estilo de vida saudável, correto e benéfico. Tenho orgulho em dizer que sou adepta. É muito mais do que não comer carne.” Atualmente, há variedade de locais que disponibilizam comida vegetariana. Outro ponto positivo é que no grupo de amigos de Cissa, sempre há um alimento especial para ela e muitos já estão adeptos à causa ou diminuem a quantidade de carne ingerida.
SER VEGETARIANO É DEFENDER PROPÓSITO
Escolher o vegetarianismo como estilo de vida também é ter propósitos. “À medida que fui crescendo, percebi que isso era muito mais do que apenas excluir a carne da alimentação, pois engloba todo um sentido político. Durante o processo de começar a olhar com mais atenção para o que eu estava consumindo, descobri que deixar de incluir a carne na minha alimentação também tinha relação com qualquer ato que envolva a exploração animal em diferentes níveis.”
Conforme ela, ser vegetariana fez sentido quando começou a perceber que os assuntos estão conectados. “Dentro dessa lógica de produção industrial, grandes áreas de florestas são convertidas em plantação de soja para ração animal; nossos alimentos são pulverizados por veneno com subsídios do governo; recursos naturais essenciais como água e solo são contaminados; trabalhadores rurais são frequentemente explorados, boa parte das pandemias, inclusive a que vivemos hoje, provêm do consumo de carne e são uma resposta direta da nossa agressão ao meio ambiente.”
Portanto, para quem deseja seguir com o estilo de vida, Cissa deixa um conselho: procurar um profissional qualificado e especialista em alimentação vegana para que ocorra o processo de transição e ter um propósito. “Não é recomendado mudar do dia para a noite, porque o corpo precisa de adaptação. E ter um propósito por trás de tudo isso também é importante para seguir adiante e não desistir.”
Entrevista: Carolina Schmidt