O Jornal O Alto Taquari conversou com a equipe do Museu de Ciências Univates sobre a vida selvagem presente no Vale Taquari e em todo Rio Grande do Sul. No início deste mês, no dia 3 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Vida Selvagem, data que celebra a fauna e a flora do planeta e alerta para os cuidados e preservação das espécies.
Jornal AT
Como está a situação da fauna e da flora silvestre na nossa região?
Museu de Ciências Univates
A situação da flora e fauna silvestre da nossa região tem sido cada vez mais comprometida em consequência da antropização (ação do ser humano sobre o meio ambiente). Não é de hoje que esse tema é pauta em diversos debates voltados para a conservação da biodiversidade, pois na mesma medida em que são construídos loteamentos, casas, prédios – ou qualquer tipo de empreendimento – é feita a supressão vegetal do local, perdendo assim uma área considerável de mata nativa que serve de abrigo para a fauna. Feita a supressão do local, consequentemente os animais que ali residem buscam por refúgio e alimento em outros locais, onde ficam mais suscetíveis à predação por animais domésticos, caça ou casos de sinistro por acidentes com a população (atropelamento, repouso em fios de alta voltagem, no caso das aves, e captura das mesmas para criação em cativeiro).
Jornal AT
Existem animais ameaçados de extinção aqui na região e no Rio Grande do Sul?
Museu de Ciências Univates
Sim, no Rio Grande do Sul existem diversas espécies ameaçadas de extinção, segundo o DECRETO N.º 51.797, DE 8 DE SETEMBRO DE 2014. Ainda, no dia 7 de junho de 2022 foi atualizada a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (PORTARIA MMA Nº 148, DE 7 DE JUNHO DE 2022), onde complementa a lista já existente de 2014. De espécies da fauna, são incluídas 1249 espécies, sendo 257 de aves, 59 anfíbios, 71 répteis, 102 mamíferos, 97 peixes marinhos, 291 peixes continentais, 97 invertebrados aquáticos e 275 invertebrados terrestres. Aproximadamente, 75% das espécies que constam na lista já estão inseridas em Planos de Ações Nacionais para conservação (PAN) (ICMBio).
Da flora do Rio Grande do Sul, podemos citar a Araucaria angustifolia que entrou na lista vermelha da flora, espécie que caracteriza nossa Floresta Ombrófila Mista, e que necessita total conservação. Para a fauna, podemos citar os felinos do gênero Leopardus e Puma, que estão considerados como espécies vulneráveis (VU), e L. tigrinus (Gato-do-mato-pequeno) está em perigo (EN) na lista vermelha da IUCN. Além dos felinos, temos espécies de veados, tatus, morcegos, roedores e macacos considerados vulneráveis e em perigo.
Para a nossa região, podemos ressaltar a importância da conservação das seguintes espécies de mamíferos: Dasyprocta azarae (cutia), Eira barbara (irara), Nasua nasua (quati), Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim), Tapirus terrestris (anta), Cuniculus paca (paca), Cavia magna (preá), Leopardus munoai (gato-palheiro), L. geoffroyi (gato-do-mato-grande), L. pardalis (jaguatirica), L. tigrinus (gato-do-mato-pequeno), L. wiedii (gato-maracajá), Mazama americana (veado-mateiro). Além dos mamíferos, há também diversas espécies de aves ameaçadas, que são vítimas da captura para criação em cativeiro, normalmente são atrativos por suas cores chamativas e cantos variados.
Jornal AT
O que se pode fazer para que não sejam extintos? Existem projetos na região que visam a preservação das espécies e dão atenção para questões ambientais?
Museu de Ciências Univates
Para cada um desses grupos, existe um programa ou instituto que promove a conservação de uma ou mais espécies desses grupos, e o que se pode fazer para que esses animais não sejam extintos é procurar conhecer quais são os objetivos e motivações desses programas. É através da educação ambiental que se adquire conhecimento e competência para a conservação da fauna e flora regional.
Existem projetos e ações locais que se enquadram na conservação da biodiversidade local. O próprio Museu de Ciências Univates faz o empréstimo de diversos materiais didáticos das coleções a fim de difundir o conhecimento acerca de animais e questões socioambientais que são pouco conhecidas pela população. O empréstimo destas exposições itinerantes é feito para escolas, órgãos municipais e empresas privadas de licenciamento ambiental, para que possam trabalhar diretamente com a comunidade em ações de educação e preservação ambiental. Podemos citar também o Laboratório de Botânica coordenado pela Profª. Dra. Elisete Maria de Freitas, que está desenvolvendo pesquisas voltadas para a conservação e restauração de áreas degradadas nas matas ciliares do Vale do Taquari.
Jornal AT
Qual a importância da preservação da fauna e flora silvestre e da diversidade biológica?
Museu de Ciências Univates
A preservação de todos os organismos existentes é fundamental para manter o equilíbrio dos ecossistemas. A preservação da fauna está diretamente ligada à manutenção das florestas, pois em sua maioria, são os animais que fazem a dispersão de sementes de forma inconsciente, e que possuem uma maior chance de germinar e manter as florestas em pé. Além disso, fazem o controle populacional de outros organismos, a fim de manter o equilíbrio das populações em um determinado ambiente. Nesse sentido, a fauna é um fator essencial para a existência de um todo. O desrespeito à biodiversidade agrava diversos problemas ambientais, por isso, preservar a flora significa manter alimento para a fauna, manter em equilíbrio as condições ambientais de um determinado local. O combate ao desequilíbrio ecológico está diretamente ligado aos problemas energéticos e principalmente à falta de alimentos.
Jornal AT
Como a não preservação das espécies pode afetar o ser humano?
Museu de Ciências Univates
Sem animais = não há dispersão de sementes na floresta; e o controle populacional de muitos outros animais não é feito corretamente, aumentando sua população levando ao desequilíbrio do ambiente.
O desequilíbrio do ambiente causa prejuízos econômicos, um exemplo claro está relacionado à produção de alimentos. Muitas culturas dependem dos polinizadores para se desenvolver, especialmente as abelhas.
Sem plantas = condições ambientais desreguladas (temperatura e umidade) principalmente em áreas urbanas; sem alimento para fauna silvestre e até mesmo os humanos; dependendo do local onde foi desmatado, pode promover erosões, deslizamentos. Em grande escala, auxilia na mudança do clima, como as grandes queimadas e desmatamento da Amazônia.
As florestas prestam diversos serviços ambientais para a sociedade. Os serviços ecossistêmicos são todos os serviços que a natureza nos oferece direta ou indiretamente como: absorção de CO² pela fotossíntese das florestas, controle do clima, polinização de plantas, controle de doenças e pragas. Os regimes de chuvas estão diretamente relacionados à preservação das florestas. Além da questão agrícola que é muito afetada pelo clima, podemos citar diversos desastres naturais que estão relacionados ao regime de chuvas como o ocorrido na cidade de São Sebastião em São Paulo que causou a morte de 65 pessoas.
Jornal AT
Como despertar o interesse das pessoas sobre a fauna e a flora silvestre? E o que cada um pode fazer para contribuir com a manutenção das espécies?
Museu de Ciências Univates
A Educação Ambiental é o pontapé inicial para tal iniciativa. Essas questões devem ser promovidas não só pelas universidades, mas também deve partir das prefeituras e outros órgãos que tenham interesse em disseminar o tema.
Individualmente o que se pode fazer, é aquilo que está ao seu alcance: primeiro passo é reconhecer as formas de vida que você está lidando, se você pode ou não remover tal árvore; se você pode ou não fazer o manejo de uma determinada espécie de animal, se não sempre consultar um profissional da área para aconselhar nos seguintes passos; e em hipótese alguma colocar essas formas de vida em risco.