Hoje resolvi saldar umas dívidas antigas.
Acontece que de vez em quando alguém me pede uma indicação de leitura. Nessas ocasiões, costumo concordar, digo que vou fazer, sim, vou. E acabo dando o calote. O tempo vai passando, esqueço completamente. Nesta semana, recebi uma cutucada mais forte, de modo que aqui estou para botar em dia as contas. Ou seja, partilho umas leituras que tem feito meu encantamento ultimamente. Acho difícil que não agradem a vocês, que também gostam de ler.
Nem preciso dizer que a recomendação do falecido professor Frank McCourt continua em plena validade. Ele disse que a nossa mente é como a nossa casa. A gente escolhe o que coloca lá. Pode atulhar com tralhas, pode deixar empoeirar, encher de teia de aranha. Ou pode ocupar o espaço com boas coisas. A nossa mente nos pertence. Nós mandamos nela. Mesmo sendo pobres, usando roupas velhas e sapatos esfolados, a nossa mente pode ser um palácio.
Então, lá vão algumas sugestões de bons livros.
- Annie Ernaux ganhou o prêmio Nobel da Literatura em 2022. É
dela “O acontecimento”, livro onde conta uma experiência total da vida e da morte – como define o aborto por que passou há mais de sessenta anos, quando morava no interior da França. Fala com absoluta coragem.
- Para homenagear Rita Lee, falecida há pouco, vale ler ou reler
“Uma autobiografia”, que a cantora lançou no ano de 2016. O livro é sincero e alegre. Rita Lee chega a imaginar ali que o seu epitáfio diria assim: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.
- Carla Madeira é uma jovem escritora mineira que lançou seu
primeiro livro em 2014. Trata-se de “Tudo é rio”, uma obra composta de capítulos curtos, em que vai mostrando as várias pontas da história de amor de Dalva e Venâncio e a tragédia que acontece. A linguagem é criativa, atrevida, lírica, louca e lúcida.
- Dave Grohl, o fundador, vocalista e guitarrista da banda Foo
Fighters partilha a sua vida em “O contador de histórias: memórias de vida e música”. Ele não se envergonha de incluir aí a parte inicial, quando passou fome, viveu na estrada, à margem de tudo, sem nem saber onde dormiria a cada noite. Não omite as tristezas, mas também celebra a estabilidade pessoal e o sucesso que veio a conhecer a partir da década de 90.
- Laetitia Colombani é autora de “A trança”, um livro de capítulos
curtos que vai alternando a história de três mulheres: uma vive na Índia, outra na Itália, outra no Canadá. Elas pertencem a realidades completamente diferentes, mas em dado momento suas vidas se entrelaçam como em uma trança. Suas vidas tecem uma trama que fala sobre esperança e solidariedade.
- Chimamanda Ngozi Adichie tem nome quase impronunciável
para nós, porque é uma mulher de nacionalidade nigeriana. Uma de suas obras de grande sucesso é “Americanah”. O livro de mais de 500 páginas conta a história de uma conterrânea sua que vai morar nos Estados Unidos e vivencia a condição de negra e de estrangeira com toda a intensidade. O relato também abre lugar para uma história de amor capaz de vencer obstáculos à primeira vista intransponíveis.