Tem uma mistura de aromas, sons, cores e memórias que me levam a viver com muita alegria esse período de festas. Sofro com o estresse e preocupações, não sou diferente de ninguém, mas tudo com equilíbrio e uma incontida disposição para a harmonia. É o ano – mais um – a fechar a contabilidade entre acertos e erros. Quero um encontro de contas e, como sempre, acabarei devendo alguma coisa a tantos e, principalmente, aos meus próprios interiores.
Nós, adultos, crescemos cercados de pequenas alegrias e grandes culpas. Sofremos com isso. Dói a obrigação de se encarar, em um dia tão especial, recordações de tempos mais alegres. Pior, dividiremos a ceia com outros que no cotidiano às vezes nos provocaram mágoas e lágrimas. Vale a pena tudo isso? Os distintos leitores poderão imaginar ser impossível pedir tolerância e entendimento entre amigos e familiares só porque é Natal. Mas essa é a hora! Não existe nenhuma data tão fortemente emblemática.
Sim, as angústias vão do pequeno ao imenso drama existencial. É o assado no forno, o calor a derreter miolos. Os espumantes – demi-sec ou brut? As cervejas, drinques. Refrigerante ou suco? As saladas, castanhas, frutas e os panetones? Com chocolate ou frutas cristalizadas? Polêmica anual. Ah! E se não for de fermentação natural um dos tios vai implicar. Lá vem discurso.
Sim, todo ano é a mesma rotina. Sogras e genros, novos e antigos amores. O ex a bater na porta! A combinar datas. O estresse do “quem fica com quem”. As brigas domésticas parecem transformar-se em pauta única e se transformam em saudade quando lembram os que partiram em outros natais.
Vale a pena tudo isso? E os presentes? Nestas horas, o guri que um dia fui assume o comando das ações. Confere o saldo da conta, busca o cartão de crédito e em quantas vezes, sem juros, pode fazer a alegria das crianças, do amigo secreto. Organiza a ceia e amansa o coração para não explodir de ansiedade. Quantas vezes pensei em fugir para uma ilha deserta? Mas a razão sempre me levou a acender velas coloridas e iluminar o perdão.
Quantas vezes me vi, cheio de esperanças na hora dos abraços, algumas vezes entre antigos desafetos mas, principalmente, ao lado de novos afetos, compreendendo que assim é a humanidade. Evoluímos entre ruínas de bons e maus projetos. Quem aprendeu, saberá edificar uma realidade melhor. Com ou sem Noel, presentes, peru na ceia e até mesmo gente de nariz torcido. O amor deve ser o impulsionador de tudo até o último convidado – mesmo aquele primo beberrão que sempre faz sujeira no tapete novo.
Ficará na madrugada, apenas o espírito de tudo que sustenta este texto: a solidariedade, a possibilidade de retomada na fé, independente de sermos crentes ou céticos. Só não podemos nos descuidar de amar incondicionalmente. Um sentimento assim, generoso e altruísta, jamais nos deixará na solidão.
Com certeza, neste dia 25, minhas vivências estarão presentes. Elas cimentam minha construção existencial. Talvez com alguma melancolia, mas isentas de rancor. Despidas de conflitos. Em paz, homenageando o aniversariante deste dia, como o calor de uma manjedoura e a leveza de um sonho bom. Aceitem, então, meus carinhosos votos de um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!