Nós, bons colegas de trabalho, bons maridos e, na medida do possível, amantes apaixonados, pagamos sempre pelos maus exemplos. Sim, o lado bom da força masculina, luta contra os próprios preconceitos e se esforça. Não apenas abre a porta do carro para elas, mas escancara as possibilidades para que possam crescer como mulheres independentes e realizadas.
Nem queremos muito em troca. Um reconhecimento de vez em quando, o carinho ou um olhar agradecido, não por ser o macho libertador, mas simplesmente um homem do tipo que reconhece suas próprias limitações, mas guarda em si, infinita disposição para aprender e melhorar.
O que ganhamos em troca? Satisfação pessoal seria suficiente. Especialmente quando você é um profissional que valoriza a atuação das colegas femininas, aceita ser comandado por mulheres. Em casa, sabe dividir obrigações. É parceiro. Duro sem perder a ternura.
Mas aí, a humanidade machista escreve uma triste história de abusos e opressão, subjuga a mulher e acabam escravas como se o gênero feminino fosse sinônimo do pior. Por isso, tenho a sensação de que foram homens com altos teores de culpa que decidiram apoiar o Dia Internacional da Mulher.
Politicamente corretos, muitos deles não passam de interesseiros, cínicos com maquiagem pesada. Neste dia especial, o planeta assiste a um derrame de flores (Só perde em vendas para finados e Dia dos Namorados), perfumes e discursos recheados de lugares comuns.
Políticos e empresários se derramam em projetos bacanas em nome da mulher. Gestos elogiáveis, mas óbvios. Todos querem demonstrar apoio à luta feminina. E o comércio, liderado agora também por mulheres, passa a lucrar com a data. Ai! Esquecer datas é uma das falhas do caráter masculino.
O que estamos vendo são maridos, namorados, chefes ou subordinados de mulheres a correr às lojas. Em muitos momentos, a luta da mulher por igualdade vira um produto a ser vendido.
E cá entre nós, homens e mulheres adoram mimos. Tenho amigos que me dizem, com razão, que é um dever para o macho da espécie. Mais uma conta a pagar por séculos de tortura.
Machos sensíveis! Trabalhem todos os dias da semana pela valorização feminina. Igualdade agora! É a única maneira de interrompermos o ciclo dos discursos iguais, das citações bregas e pseudo-feministas a cada oito de março.
Chega de botões de rosas murchas no escritório, entregues por office boys suados. Vamos dar um basta aos apertos de mãos e abraços divididos entre o desinteresse e o cinismo.
Vamos eleger o 8 de Março como Dia Internacional da Queima Total das grandes grifes da moda feminina. Que tal? Ótimo para elas, escravas de um padrão estético anoréxico.
Para nós, com ou sem data especial, precisamos de atitude para manter o equilíbrio entre eles e elas. Portas abertas ao talento, à criatividade e à sabedoria em todos os espaços da sociedade atual.
O resto é periférico. Mas um periférico pra lá de gostoso. Afinal também podemos curtir juntos o perfume das flores e o sabor dos bombons. Ora, isso também é igualdade.