Ela entrou risonha, feliz. Dona de si. Buscava a sala de um fulano de tal. Vestia uma legging tão justa que temíamos o pior quando curvou-se para resgatar, em uma imensa bolsa, o celular que disparava “Cruel Summer” da loira Taylor Swift a gritar “sem regras em um paraíso frágil”, em minha tradução para lá de livre. Tudo a ver! Por sorte, aconteceu o melhor. Nada se rompeu e, naquela sala, a moça permaneceu íntegra, os rapazes eriçados, as mulheres, lívidas! Falta de senso estético, de respeito era o que mais cochicharam. Elas, é claro. “Isso é roupa de happy-hour, shopping. Passear com um namorado”, sentenciaram aflitas, sob a concordância cínica dos machos da sala.
“O que é moda não incomoda”, diziam os antigos. Mas a moda clássica dos anos 40 ou 50 – tecidos finos, folgados, super bem cortados – realmente não abalaria homem ou mulher alguma. Aliás, as mulheres sempre se incomodam com a visão de outra mais elegante. Nem estou falando em roupas sexy, justas, decotes entre vales de imaginação fértil.
A frase: “Querida você está uma arraso!” tem a seguinte leitura: “Querida, você me deixou arrasada!” Depois da revolução dos anos 60, a minissaia! Tudo se tornou mais liberado e azar da turma da recriminação invejosa, ou preconceituosa. Hoje as tribos decidem o que vestir e ponto final. De bom ou nenhum tom. Quer pagar vale? Azar o seu.
Mas no ambiente de trabalho, é preciso uma certa moderação. Um amigo advogado precisou convencer o estagiário do escritório a usar algo menos agressivo que os bonés, as calças de fundilhos caídos, típicos do mais radical rapper. Um ótimo guri, mas o preconceito alheio estava afastando alguns clientes conservadores.
Assim como a menina e sua roupa sexy – maravilhosa – mas totalmente deslocada (ao ambiente, porque no corpo parecia perfeita), chamava muito a atenção. Eu reconheço que a moda, para nós homens, é sempre bacana de se ver, em desfile nas ruas, nos shoppings mas, principalmente, na mulher dos outros. Com as nossas, sei lá, não cai muito bem.