Lembro que era sábado, de um ano já distante. Eu, jornalista de plantão em casa, atento ao rádio, às novas da internet e da tevê. Quase pontualmente, como toda santa manhã, saí para conferir os jornais – sim, eu os comprava junto com o pão – quando cruzo com um desses carros de propaganda. O alto-falante anunciava uma festa especial na Sociedade Harmonia, de Arroio dos Ratos. “Não perca o baile da Vaca Louca”. E alertavam que não pretendiam soltar um espécime desvairado de quatro patas na pista de dança. Destes, tem à vontade em duas patas. A promessa era mesmo sortear uma vaca!
E fiquei imaginando onde eu colocaria um bicho desses? O sujeito chega “solito” ao baile e volta bem acompanhado para casa. Uma vaca! Uma senhora fêmea, tão grande que sequer cabe na carona da moto, ou no banco do carro. Voltariam juntos, a pé, para casa, na madrugada. E eu achando que aquele festival de música do litoral norte era o maior programa sem noção do final de semana.
Quantas vezes ganhamos brindes que mais atrapalham do que agradam? Lembro que certa vez, em um destes galetos de Igreja, eu ganhei um relho de couro. Coisa mais linda. E fiquei pensando, servirá para que? Autopunição? Acabou como presente para um amigo que coleciona artigos de montaria. Ele não tem mais cavalos, vive feliz com sua namorada em um lindo sítio.
Ao voltar para casa, ainda pude assistir a uma cena para lá de insólita: chuva forte e um homem, bem protegido, capa de chuva e capuz, regava as flores de seu jardim. A despeito da água que as nuvens mandavam em abundância, ele acrescentava o jato forte da mangueira. E foi naquele instante, que descobri: estava ali o cara certo para ser o grande premiado no baile da Vaca Louca. Alguém que gosta de regar a própria chuva, tem perfil para isso e muito mais.