Em recente pesquisa, a Datafolha mostrou que 59% dos brasileiros estão acima do peso. Nem todos eles podem ser classificados como obesos, é verdade, mas todos tem massa corporal superior ao que se considera desejável. Não admira que tenhamos chegado a este ponto. Os hábitos de vida e de alimentação mudaram muito, especialmente a partir dos anos 1980, e tudo leva ao caminho do aumento de peso. A tal ponto que, portar uns quilos a mais passou a ser considerado o mal do século XXI, quase uma epidemia.
Pior disso tudo é que especialistas afirmam que o efeito da super nutrição é tão danoso como o da desnutrição.
A Organização Mundial da Saúde é mais explícita. Ela relaciona o sobrepeso com mais de 200 condições patológicas. Ao sobrepeso são associadas doenças cardiovasculares, distúrbios de sono, problemas hepáticos e de circulação, depressão, etc., etc.
Outro dado interessante da pesquisa Datafolha é que a maioria dos gordos e gordinhos não acredita que seja muito difícil resolver o problema. Aumentar a atividade física seria a solução – segundo a maioria dos entrevistados.
Pode ser verdade, mas quem diz isso provavelmente desconhece o tanto de esforço e disciplina que a atividade física sistemática exige.
O desequilíbrio entre o que se come e o que se gasta em calorias resulta em aumento de peso. De modo que fazer exercícios físicos pode ajudar, sim. Mas sem mudar também a dieta, sem mexer no estilo de vida, fica bem mais difícil produzir os resultados desejados. O nosso cotidiano se encheu de facilidades. Cada vez precisamos fazer menos movimentos. Chegou-se ao ponto de os dedos, acionando o celular, serem a parte do corpo que mais movimentamos. Os elevadores nos dispensam do esforço das escadas, os controles remotos ligam quase todos os aparelhos, robôs aspiram a poeira da casa sem a nossa ajuda. A consequência é que passamos a maior parte do tempo sentados, praticamente imóveis.
E a indústria da alimentação, enquanto nos facilitou a vida, armou outra arapuca. Graças a ela ficou tão fácil cozinhar que a gente pode despejar na panela uma mistura pré-preparada, por exemplo, e levá-la à mesa em poucos minutos. Descascar batatas, picar cebolas são atividades em extinção. Nem vou falar das massas prontas para bolo, que só pedem cozimento. Ocorre que até esse esforço ficou desnecessário. Muito mais prático é comprar o bolo já na embalagem, de preferência, dividido em pedaços. Mais ainda, nosso paladar foi ficando tão acostumado com os sabores industriais que podemos nem dar todo o valor que os pães caseiros merecem ou a que o feijão cozinhado em casa tem direito. No mesmo movimento fomos nos desacostumando dos legumes, das frutas que não dispensam o esforço de serem descascados e picados. Muito mais prático é escolher produtos, que não sujam louça e que a gente pode comer na frente da TV, deliciando-se com a crocância, com o aroma e com o sabor – tudo artificialmente desenvolvido, claro.
Aí chegamos à clássica definição da massa Miojo:
– Dizem que nós somos o que comemos. Isso significa que eu sou fácil, barata e fico pronta em três minutos.
Por Ivete Kist