Aconteceu algumas vezes na minha adolescência. Eu acordava na madrugada com uma sensação estranha, um peso asfixiante e palpitação fora do comum. Algo como em filme de suspense, ou terror. Mas os monstros todos estavam guardados lá dentro, embolados em minha imaginação de guri. Certa vez a coisa foi tão forte que desmaiei de pura ansiedade. Imagino o susto de meus familiares. O barulho seco no piso de madeira e o gemido de dor. Mas passada a crise, todos os fantasmas sumiam e eu voltava, assustado, para a cama. Esse quadro acalmou a base de medicação tarja preta que abandonei um ano depois, para enfrentar, sem farmácia, meus problemas.
Lembrei desses dias ao assistir – ao lado de minha neta – a história da jovem Riley, personagem do filme Divertida Mente 2 que, neste segundo roteiro, enfrenta as mazelas da transição da infância ao amadurecimento. Aquela Sala de Controle Emocional do primeiro filme, se vê obrigada a uma adaptação a esses novos tempos, onde as emoções explodem e ganham tons dramáticos, entre a alegria inocente da infância e os novos sentimentos de tristeza, raiva, medo e “nojinho”, aquele soberba juvenil.
E aí lembrei das “muletas” psicológicas que encontrei na música. Batia uma ansiedade e depressão mais forte e lá estava eu a ouvir Help! (Socorro!) dos Beatles, “Me ajude a voltar a ter os pés no chão, por favor!” ou “Satisfaction” dos Rolling Stones, onde a lamúria era contra a busca de satisfação pelas coisas ditas boas da vida “eu tento, tento e não consigo”. Na época eles gritavam por mim e, na semana passada, o inteligente roteiro da Pixar, me lembrou – em cores bem definidas – o temperamento de um jovem em crise existencial.
Recomendo o filme aos papais e mamães e, lógico, aos filhos, para que sintam, com bom humor, como é normal essa fase onde a tristeza muitas vezes bate papo com a depressão e nos deixa assustados e intimidados com a sociedade. Todos tão certinhos e nós, esquisitos, de voz ruim, corpos em mutação e com desejos confusos, aparentemente inadequados. No filme cada emoção possui uma cor específica, lida com o inconsciente e o desenvolvimento da personalidade e aquela sombra assustadora que é a ansiedade.
Era a missão de ser um bom filho, um colega legal e ter notas satisfatórias apesar da ânsia que sufocava quando eu dependia de conhecimento gramatical para uma boa redação. Ah! E sem esquecer a diferença entre complemento nominal e adjunto adnominal. Inferno! E nem vamos passar pela matemática. Por favor! Terminou o filme e eu estava tranquilo. Apesar da idade adulta, percebi que ainda guardava o exemplo do adolescente que recusou o alívio medicamentoso de antidepressivos.
Chorar alivia, buscar identidade em uma “multidão fantasiada de gente”, conforme a letra de uma música que escrevi na adolescência, te leva a um grupo semelhante e, nessa trilha, nunca se está sozinho. Aprendemos entre erros, acertos, mãos dadas ou negadas. Tudo é construção. Basta abrir os olhos, assumir a realidade que a fantasia se transforma no escudo que espanta a tristeza, essa chata mal amada que insiste em nos impor desânimo no dia-a-dia. Eu reagi – com ou sem pílulas – é em nosso interior que está o espírito divertida mente.