Tenho visto muito, recentemente, nas postagens das redes sociais, o empenho das pessoas em registrar memórias, e, digo, isso é muito bom, desde que, estejam também registradas no nosso coração e mente, pois é isso que nós precisamos em momentos tristes e na velhice. São em momentos de dor e quando já não temos autonomia e a idade passar, que precisamos recorrer às lembranças.
Algo é certo na vida: que vamos morrer. E tomara que chegaremos a velhice; seria um processo natural. E, se sabemos desde sempre que vamos envelhecer, temos que nos preparar para isso, vivendo a vida com qualidade e registrando no nosso interior momentos marcantes. Não importa se você é pobre ou rico, todos vamos morrer e antes disso, se tudo der certo, vamos chegar na velhice e, também, em momentos tristes que todos precisaremos recorrer a imagens, lembranças e registros bons, senão, teremos um tempo triste e sombrio.
Começamos a envelhecer um pouco a cada dia, desde a infância e desde então nosso cérebro e coração vão registrando memórias, baseadas em cheiros, sensações, enfim, emoções. Por isso, sorria, esteja no meio de pessoas que te fazem bem, diga eu te amo, faça jantas, tome café quando tiver vontade, peça perdão. Afinal, somos a bagagem que levaremos que determinarão quem somos.
Passados os 40 anos de idade, o maior conteúdo das nossas vidas são as memórias produzidas e isso diz respeito ao nosso passado. As boas lembranças são um retrato daquilo que juntamos ao longo da vida. Cada indivíduo tem a sua coleção particular e em momentos de tristeza e na velhice temos que recorrer a eles para conseguir suportar momentos não tão bons e também as marcas do tempo que nos fazem, muitas vezes, não ter mais autonomia.
Os neurônios armazenam sensações dos momentos, tornando lembranças potentes. Para muitos, inclusive para mim, as melhores lembranças são as viagens. O tempo é empregado com calma, com qualidade. Agora, como empregar o tempo é uma questão de escolha. Muitos deixam de viajar só na aposentadoria. A gente deveria se aposentar todo um dia um pouco e dedicar um tempo às pessoas, e para a gente. Conheço muitas pessoas que deixam a construção de boas memórias para dias que lhes parecem mais favoráveis, como aposentadoria. Adiar sonhos, projetos e realizações durante anos ou décadas, muitas vezes, pode ser tarde. Quantos de nós conhecemos pessoas que postergaram a vida para depois e ficaram doentes ou foram acometidas de uma outra rotina. O momento certo sempre é o agora. O meu melhor dia é o hoje. Minha melhor roupa é a que vou vestir, hoje. Vivenciar plenamente a alegria, sentir a tristeza. Lavar melhor os olhos para ver as coisas bonitas e a natureza nos dá um show todos os dias. Dar valor às coisas simples.
A boa notícia é que todos os dias, a vida nos oferece oportunidades de construir passados com as pessoas que amamos. Esses passados vão alimentar nossas memórias e essas lembranças serão doces no nosso tempo de envelhecimento. Estou falando de envelhecimento, quando vamos precisar recorrer às lembranças, mas também precisamos delas quando pessoas queridas vão embora, seja daqui a meses ou daqui a setenta anos, ficaremos com toda a história construída nesse tempo de convívio.
Neste momento em que escrevo esse texto, visito os meus 41 anos de convívio com meu pai e consigo suportar melhor a perda dele. Construí, especialmente, nos últimos meses de doença dele, um convívio muito forte e de muito carinho. Ah, isso me abastece de lembranças doces, de conselhos, de tantos jogos de carta e conversas sobre o dia, sobre trabalho, sobre política. São registros que ficarão para a eternidade e me dão força.
É sobre isso. Histórias e conexões constroem passados e as memórias resultantes disso abastecerão lindamente os anos de velhice ou quando precisarmos disso para viver.