Outra crônica de casal. Mas essa história aconteceu há pouco tempo e tem a ver com o 15 de Novembro, feriado da proclamação da república brasileira. O movimento que explodiu lá em 1889 derrubando a monarquia, incentivou Jane a se rebelar contra Jonas, o marido. Ela o acusava de transformar uma bela união estável em um reinado absolutista. Ele o imperador máximo e ela, uma típica rainha do lar, onde o cetro se transformava em vassoura.
Jane sabia que, em parte, a culpa era dela. Incentivara mimos demais no início da relação e Jonas abusava. Por exemplo, exímio cozinheiro na fase de namoro, conquistou a esposa com risotos variados e ainda era carinhoso, gentil e vigoroso amante. Toda semana lhe oferecia flores, ou mimos como livros e doces especiais da confeitaria favorita dela.
Jonas alegava que assim, manteria a doçura na medida certa para os momentos mais amargos da vida que, inadvertidamente, chegaram apesar dos quindins e outras guloseimas. O marido não se conformou com as queixas. Sentiu-se igual ao Jonas bíblico, preso à barriga de uma baleia. Mas se essa era a sua missão, se esforçaria mais para voltar a ser o marido que a fazia feliz.
Jonas reclamou do sufoco nos últimos tempos. Ambos haviam sofrido com o coronavírus, a casa onde vivem, escapou por poucos das cheias, mas todos seus amigos haviam sido afetados. E de bom esposo, quem sabe, havia se tornado um sujeito assustado com as tragédias naturais. É claro que ela não caiu nessa desculpa. E xingou a acomodação em todos os níveis. Todos!
E foi aí que acendeu a luz de emergência na cabeça de Jonas. E partiu para um plano que o livrasse da barriga de qualquer baleia doméstica. Jurou que, a cada virada de mês – sem uma data específica – celebrariam a proclamação da “Repúbica” dos países baixos (revisores, sem o L mesmo). Uma forma marota de afirmar que além dos acepipes que ela se habituara em mais de uma dezena de anos, seria um exemplo dedicado de fervoroso amante.
Jane achou justo e divertido, mas desconfiou de alguns termos do acordo como, “na virada de mês” ou “sem data definida”. Sentiu nessas palavras um certo tom de procrastinação a caminho. Mas não bancaria a insensível. E só por isso, deixou o alerta de que, em caso de rompimento do acordo proposto, iria buscar uma comemoração fora de casa, sem direito a queixas ou condenações.
Ainda citou o próprio Jonas que, no período inicial da relação proclamava: “O amor elimina o hormônio do estresse, libera endorfina, aquela sensação prazerosa” e, aparentemente, havia assumido uma condição de marido relaxado. Era um Jones de castigo, na barriga da baleia do comodismo. Mas se na criação da república brasileira houve um compromisso pela unidade, ela exigia rigorosa fidelidade às antigas promessas do casal. Era isso ou ele sofreria um autêntico golpe de estado, bem lá, na tal “república.”