Muito antes de obter o diploma de Jornalismo – conquista obtida aos 23 anos, na Unisinos – já trabalhava em comunicação. Em palestras que ministro manifesto grande orgulho de ter nascido e trabalhado no Interior do Estado. Perdura um arraigado preconceito entre profissionais recém-saídos da faculdade que relutam em começar a carreira fora de Porto Alegre. Aqui, em nosso “O Alto Taquari”, durante algum tempo fui o único funcionário da empresa. Ao sair à rua, portava três blocos. O primeiro para fazer as anotações para as reportagens. Caso o entrevistado demonstrasse empatia, oferecia uma assinatura, mediante recibo do segundo bloco. O terceiro volume servia para oferecer publicidade – ou propaganda -, como se dizia à época. Ao ouvir este prosaico relato muitos estudantes ficam boquiabertos. Em época de tecnologia onipresente é impossível imaginar-se um repórter andando a pé por toda a cidade, fazendo reportagem e acumulando as atividades da venda de publicidade do jornal. A segmentação atual exige especialização, mas não permite que o comunicador conheça integralmente o processo de comunicação em rádio, jornal, televisão ou nos canais de internet.
Vivemos tempos de radicalização raivosa. As consequências sufocaram a informação criteriosa em detrimento da opinião. Até pouco tempo atrás manifestar posicionamentos era função exclusiva de comentaristas e colunistas. Repórteres/jornalistas se ocupavam de apurar os fatos – com critério, honestidade e ética -, publicando ponto e contraponto, ou seja: os dois lados dos fatos, oferecendo subsídios para que o público fizesse juízo de valor. Numa época onde milhões de internautas sustentam “influencers” que dizem o que devem vestir, comer e consumir, pode-se constatar que as redes sociais turbinaram a insensatez. O “efeito manada” gerou pessoas tangidas por antiéticos obcecados por dinheiro. Esta gente – que produz e consome este tipo de informação – costuma rotular grosseiramente quem pensa diferente. São dias difíceis em que profissionais de jornalismo viraram cabos eleitorais e veículos de comunicação são comitês políticos sustentados por verbas da publicidade oficial. É raro encontrar conteúdos imparciais que não tratem o leitor/ouvinte/telespectador/internauta como um idiota. Hoje, é incomum acessar notícias com “os dois lados”, exibindo virtudes e defeitos, num jornalismo responsável, ético, transparente e comprometido com a verdade. Só com a verdade.