A primeira vez que voltei a Lavras do Sul, para uma visita há muito agendada, o fiz direto a uma casa situada na parte mais elevada da cidade, onde tive a alegria de encontrar D. Marieta, a professora que ensinou-me a ler e escrever e, mais importante ainda, o fez de maneira tão dedicada e nobre que vi, no gesto diário de cumprir sua tarefa, uma lição de vida e de comportamento inesquecíveis. No período de mais de meio século entre nosso último e terno encontro e os dias de hoje, é fundamental ressaltar um detalhe importante para esclarecer os mais recentes fatos ocorridos na Educação no Estado: todos os candidatos a cargos eletivos, eu escrevi todos, tiveram uma mesma e decorada resposta à pergunta:
– Quais as prioridades que o (a) senhor (a) levará para o seu mandato?
As respostas sempre chegaram como refrão de um hino cantado mas nunca respeitado:
– Educação, Segurança e Trabalho para todos!
À medida em que o refrão foi se tornando a repetição de uma inverdade, a esperança despediu-se do dia-a-dia e passou a ser frequência de dois em dois anos.
A cada eleição de Governador ou Prefeito, ouvem-se as mesmas promessas e explicações, sempre justificando a falta de investimento no futuro, ou seja, na Educação da Infância e da Juventude.
O andar do Tempo gerou e fez se multiplicarem os movimentos de protesto, em especial de parte dos professores, os quais acabaram apontando suas verdades (fora alguns matizes de politicagem inaceitáveis) e sempre retocando a realidade; pior, aumentando o caudal de prevenções contra a profissão de Mestre, justamente o inverso do que os movimentos deveriam ter procurado comunicar.
Iniciado o Século XXI, há pouco mais de dez anos, pesquisa mostrou que a profissão de Professor, Mestre e Conselheiro de seus alunos havia saído dos primeiros lugares entre todas as atividades laborais e se deslocava para um lugar entre as de menor preferência, sem o destaque do Mérito que sempre teve, até pouco a pouco fixar-se entre os primeiros lugares das profissões menos procuradas.
À grande parte de verdade que isso correspondia, juntou-se o uso político que, de fato, quase sem exceção foi exercido.
Todos os partidos, eu escrevi todos que criticaram antigos ocupantes do Piratini passaram a cometer os mesmos e denunciados erros, sem que nada de consistente de sua atuação no setor se pudesse comentar ou elogiar.
A lógica acabou cumprindo a sua parte e determinou que na onda dessa repetição de “nadices” ( o termo não existe, mas é um erro proposital) o mais certo seria o arrefecimento de esperanças e sonhos e a manutenção de permanentes ataques à “falta de palavra das autoridades ditas incompetentes”.
O que ainda faltava para ser visto e lamentado chegou de maneira simples e indesmentível: pesquisa mostrou que, no último ano, o Rio Grande do Sul, antigo e festejado líder na Educação do país, postou-se em último lugar entre todos, ao mostrar a reprovação de um a cada cinco alunos do Ensino Médio.
Como a comprovar o erro, está a repercussão do fato no seio das próprias escolas, que se verificou através do índice de 10% de alunos abandonando os estudos, o que determina um recorde de negatividade no que deveria ser 100% positivo.
Na sequência destes dois vergonhosos e confirmados patamares, está o que não poderia diferenciar-se: o que restava dos professores que ainda acreditavam no valor da profissão, respondeu ao convite do Governo (Concurso Público) para participar de uma espécie de vestibular ao magistério, o que resultou no inacreditável resultado de 92 a 8, isto é 92 tropeços contra 8 sucessos, números talvez bons para outros estados, mas vergonhosos para o Rio Grande do Sul.
Vergonhosos porém explicáveis: quem é capaz de manter-se esperançoso e feliz com a ideia de ser professor num estado em que, para valorizar a classe, o próprio Sindicato da Profissão expõe com as mais desgastadas palavras a situação vigente, para depois ausentar-se quando o assunto será tratado e levado a um obrigatório veredito?
Richard Bach, autor de Fernão Capelo Gaivota foi bem claro sobre isso:
Aquilo que você mais sabe ensinar é o que você mais precisa aprender.
E só aprende, quem sabe que não sabe tudo!