Demóstenes, o grego (384 a.C – 322 a.C), pode ser considerado o criador da “volta por cima”, ou se preferirem, o campeão em superar situações negativas que a vida lhe atribuiu.
Basta dizer que aos sete anos de idade dois acontecimentos decisivos mostraram-lhe que sua caminhada pela Terra não seria nada fácil: a morte levou seu pai e os tutores fizeram-lhe a maldade de sumir com sua herança, o que já naquela época acontecia, mesmo em Atenas, capital da Ática – península da Grécia – e sua cidade mais importante.
Pouco depois, Demóstenes abriu processo para reaver os bens “carregados”, mas só recuperou uma pequena parte deles. Mesmo com esses pesares, a vida lhe parecia boa.
Aos 11 anos, ele descobriu o brinquedo que Atenas destinava aos adolescentes (termo atual), a oratória. Passou a sempre frequentar onde houvesse a presença de oradores, até que um deles de nome Calistrato, de rara inteligência, em um julgamento conseguiu mudar uma decisão que parecia já ter sido tomada.
No último instante de sua fala, Calistrato apresentou um argumento imbatível e, para vibração da platéia (sempre presente), o veredito do juiz seguiu o caminho por ele apontado minutos antes.
Demóstenes decidiu ali, naquela hora, “Serei um orador”, o que no caso dele implicava pior escolha possível: Demóstenes era gago!
Ora, nada demais para quem havia nascido sobre o rochedo que sustentava a Acrópole. E, principalmente, para quem viu – e aplaudiu – Calistrato ser carregado em triunfo por sua proeza como orador.
Decisão tomada, Demóstenes apelou para dois recursos que poderiam ser de grande ajuda – e foram mesmo: Fazia longos e difíceis discursos à beira do Mediterrâneo sempre muito ruidoso, tendo à boca pedras de pequeno tamanho, o que o obrigava a falar mais alto, para ouvir a si mesmo e corria contra o vento, enquanto discursava, aumentando a barreira de sua fala, que não era pequena.
Superado seu 1º quarto de século e também o defeito que até ali o atrapalhava, Demóstenes transformou-se no maior orador grego de todos os tempos, o que não lhe foi suficiente como pagamento. Tinha 22 anos (362 a.C) quando Tebas destruiu Esparta, que antes (431-404 a.C) havia superado a sua Atenas, na guerra do Peloponeso.
A oratória determinou sua escolha pela política: integrou o lado patriótico na causa escolhida e liderou a luta contra Felipe da Macedônia, que perdeu uma batalha, mas ganhou a guerra que iniciara e findou em Queroneia, a 338 a.C. Aos 54 anos, Demóstenes viu atenienses e tebanos serem dominados por Felipe, contra o qual escreveu Filípicas e contra quem “torceu” até o final.
Ao vê-lo sempre vencedor, Demóstenes, de soberana história, suicidou-se aos 62 anos de idade, ingerindo veneno. Alerto para a possibilidade de ter ocorrido, em trecho da história de Demóstenes grego, na internet, a inclusão de versão segundo a qual ele, um dos maiores nomes da Grécia de todos os tempos, tenha se deixado comprar por um Ministro de Alexandre, o Grande, para facilitar sua fuga de Atenas.
Penso que isso possa ter sido adicionado para “semelhar partes de outra história”. Se é que me entendem. Demóstenes Torres nasceu em Anicuns (GO), em 1961, formou-se em direito pela PUC de Goiás, estado onde integrou o Ministério Público e do qual foi Procurador Geral. Igual ao outro Demóstenes no que diz respeito a “voltas na vida”, foi eleito Senador de Goiás com mais de 1 milhão e 200 mil votos; quatro anos depois, na eleição para o governo do Estado, foi o último colocado com cerca de 3,5% dos votos.
Na volta por cima – ainda Senador – chegou à Presidência da Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais importantes da Casa. A 02 de abril deste 2012, seu Partido abriu um processo de expulsão contra ele por desvios éticos, o que noticio por entender que Demóstenes Torres não se valeu do tempo recebido do Partido para melhor explicar suas aproximações e vantagens (algumas pequenas, segundo ele) junto a Carlinhos Cachoeira, hoje, uma espécie de “inimigo público número 1”. A 03 de abril – pouco mais de dois meses – Demóstenes protocolou ofício desligando-se do Partido, o que livrou-o do processo de expulsão. No prefácio do livro editado pela OAB em comemoração à Ficha Limpa, o Senador goiano fez uma frase pesada e definitiva: “há uma quantidade de bandidos abrigados na vida pública”.
Quanto a esse detalhe, tenho escrito: “uma minoria busca atrapalhar o que a maioria tenta fazer”. O que não me impede de dizer que espero vê-lo provar que ele não tem – como diz – envolvimento naquilo que “parece ter tido sua participação”. Ou seja: não espero que ele ganhe a Guerra de Queroneia, contra Felipe, na Grécia, mas consiga, se tiver razão, vencer a batalha que o povo brasileiro acompanha bem de perto. E é aqui que entra a grande semelhança entre os dois Demóstenes: os dois correm contra um vento muito forte, a beira de um mar muito barulhento!