Eram 2h e 15min da manhã de domingo – 27 de janeiro deste 2013 – quando a banda Gurizada Fandangueira, começou a tocar as músicas do seu repertório, na boate Kiss, em Santa Maria.
A casa de espetáculos estava superlotada, o que significava que bem mais de mil pessoas aguardavam, com ansiedade, o ínicio da festa que, a princípio, deveria ser uma grande reunião de jovens estudantes cuja greve da faculdade estava em plena recuperação das aulas não assistidas.
Às 2h e 30min, o organista da banda, de nome Danilo, de 28 anos de idade, “deu uma espécie de toque mais forte no acordeon”, que ao contrário do que normalmente ocorria, não reagiu com um “brake” marcante, normalmente seguido de um “foguete”, determinante para a alegria se manifestar a pleno. Em vez do ruído esperado, veio o fogo, em pequena quantidade mas que encontrou um material utilizado para a acústica, de fácil combustão.
A partir do momento em que o fogo, e principalmente a fumaça, aumentaram a dificuldade das pessoas respirarem no local, boa parte delas dirigiu-se à porta de saída, de largura e demais medidas bem pequenas, tornando difícil a passagem de mais de duas pessoas por vez. Esse detalhe, que nos casos de movimento comum, impede os clientes de se ausentarem da boate sem o respectivo pagamento da “comanda”, em se tratando de uma emergência dificulta qualquer ação salvadora. Foi o que aconteceu.
Confirmou-se que boa parte das pessoas presentes à festa – ou à tragédia e que vieram a falecer – foi vitimada pela dificuldade de respirar e não pelo fogo. O local era grande, mas com imensas dificuldades de evasão e de sinalização, o que conduziu inúmeros frequentadores aos banheiros disponíveis em local situado em um dos cantos da casa. Ali foram encontrados dezenas de corpos, poucos deles com sinais de queimaduras mas a grande maioria, com sinais de morte por intoxicação pela fumaça.
O detalhe da falta de saída de emergência com uma indicação minunciosa a respeito, foi de longe o mais citado em outros casos conhecidos de morte pelo fogo. A própria região de Santa Maria, há cerca de 20 anos, acompanhou o incêndio de outra boate, por coincidência localizado quase em frente à boate Kiss, no qual saídas de emergência seriam a melhor maneira de evitar as mortes então acontecidas, mas em número bem mais reduzido.
A Presidenta Dilma Rousseff, em roteiro alterado justamente pela festa que acabou vitimando alunos que a organizaram, na busca de dinheiro para a sonhada formatura de todos, foi a grata surpresa que, é verdade, não mudou em nada a triste realidade que todos conviveram com grande impacto, mas serviu para deixar bem claro a importância com que ela tratou as vítimas da tragédia e em especial seus familiares, valorizando o esforço de todos na busca pelo reconhecimento. Sua delegação, composta por ministros da Presidência e pelo governador do estado gaúcho, comportou-se como a ocasião pedia, isto é, o tratamento dispensado a todos, sem exceção, foi uma espécie de demonstração do valor que o Brasil e o Rio Grande do Sul reconheceram existir no esforço despendido por todos que participaram do movimento para continuarem unidos e acreditando no País.
O desaparecimento de grande parte deles, da forma cruel e inaceitável como ocorreu, indica às autoridades públicas encontrarem-se com suas obrigações, quais sejam, no caso, as tarefas de conferir e aprovar o que deve ser cuidado por quem de direito e providenciado por quem para isso recebeu o compromisso de fazer.
Foi uma forma cruel da vida mostrar suas surpresas. E uma maneira lamentável do país, de forma geral, deixar claro qual o caminho a ser seguido em casos semelhantes: valorizar, cada vez com mais carinho e respeito, o esforço especial dos que lutam para melhorar seu padrão de vida e de conhecimento das carências do país. Mais do que nunca, isso passa a ser, depois de domingo, uma espécie de saída de emergência para todos os males. Principalmente os que ameaçam as vidas de brasileiros valiosas como essas, a maior riqueza que este país possui.