É proibido falar em ouro, no RS, sem antes citar o único dos 496 municípios gaúchos (censo 2010) nascido graças ao garimpo – exploração de minas de pedras preciosas – que aliás, tem no nome a confirmação deste privilégio: Lavras do Sul.
Quem pensa que Lavras é um pequeno (em área) município gaúcho, é bom atualizar-se a partir de agora: a área do município de Lavras é de 2.600 km2, ou seja, 6 vezes maior que o da Capital Gaúcha, 100 vezes superior ao de Esteio e uma vez e meia maior que o de Viamão, o maior município da Grande Porto Alegre.
Com essa dimensão, Lavras situa-se em 22º lugar no item e supera 473 municípios gaúchos com sua invejável área. A história de Lavras é cheia de detalhes comprobatórios: entre eles, a descoberta, logo na sua década inicial de vida, de uma grande pepita de ouro com o formato que lembrava o da imagem de Santo Antônio, daí seu nome completo: Santo Antônio das Lavras.
No ano de 1796 ocorreu a primeira descoberta de ouro naquele que era, então, distrito de Caçapava.
Aquele sinal mexeu com ingleses, canadenses, belgas, espanhóis, portugueses, sem falar nos índios e bandeirantes paulistas, que por lá apareciam com relativa frequência.
A 09 de maio de 1882, exatos 131 anos, o distrito de Lavras desligou-se de Caçapava e de Bagé, formando o município de Lavras do Sul, hoje com quase 8 mil habitantes.
Na história de Lavras contam-se, também, seus 7 limites de território com os municípios vizinhos de Bagé, Dom Pedrito, Caçapava do Sul, São Gabriel, Santa Margarida do Sul, Vila Nova do Sul e São Sepé.
Entre as riquezas de Lavras estão suas águas. As mais próximas são as do Arroio Camaquã, que banha a Sede, dos Arroios Jacques e Hilário, que junto aos demais citados formam o rio Camaquã que, por sua vez, desemboca no Santa Maria.
Todas essas referências de excesso de água via arroios e rios, nada, mas nada mesmo, tirou do sério e do ritmo aquele fornecedor de leite e de manteiga para os lavrenses. Durante os anos de 1948 a 1953, um descendente de franceses e sua família juntava às suas funções de diretor da Cooperativa Agrícola de Lavras e de permanente pesquisador dos trigos Frontana, 35 e Ouro Negro, a atividade que lhe trazia a maior alegria: entregar aos amigos e fregueses , uma vez por semana, em uma charrete puxada por um “percheron branco”, o produto das vacas “braba” (holandesa) e “baixinha” (jersey), na época alguma coisa como 30 litros por dia.
Tratava-se da matéria-prima para fabricar manteiga da melhor qualidade, entregue e conferida antes, pessoalmente pelo “patrão” Ciro Moreau, meu pai.
Não houve ao longo daquele curto porém inesquecível período, descaso com os produtos, queixas, modificações suspeitas e muito menos a presença de água, ainda que pura.
É verdade que, à época, não necessitava a presença de ninguém para lembrar o que deveria ser feito com o leite diariamente “produzido” pela “braba” e pela “baixinha”.
O entregador do leite era o próprio “patrão”, cujo produto para consumo próprio era apojado na hora, por ele ou por meu avô, Romário de Barros Leite (que sobrenome, hein?).
“O olho do dono engorda a produção do rebanho”, ditado que naquele tempo era obedecido por todos os fornecedores, principalmente meu saudoso pai, de quem guardo lembranças e lições de como tratar os filhos e fazer amigos ( posso dizer que tentei seguir seus passos mas sempre me fica a ideia de que perdi as melhores aulas).
Finalizo: Não sugiro aos transportadores de leite que o carreguem da melhor forma; sugiro às empresas de laticínios uma rigorosa fiscalização do produto que está sendo recebido, para a segurança da qualidade do leite e derivados que oferecerão aos consumidores.
Não esqueçam o velho ditado: não adianta choro, especialmente se foi para o lixo carregando a imagem das empresas de laticínio. Onde estavam elas na hora de conferir a qualidade daquilo pelo qual lhes cabia zelar?