Ainda ontem, o Brasil era tão somente o “país do futuro”. Cá entre nós, um conceito tão trivial, surrado e corriqueiro quanto “Gre-Nal é Gre-Nal”, por exemplo.
Estávamos sempre às portas do amanhã, na mesma proporção em que andávamos à beira do abismo. Esta segunda hipótese, por ser mais palpável do que a outra, passou a ser também a que mais mexia com as pessoas, logo, a que foi investida no papel de mais aceita.
Em bom brasileirês, ser o país do futuro dividiu-se logo entre duas interpretações: uma aspiração-quase-sonho e uma “zebra”.
À beira do abismo ficou sendo nossa direção, nosso endereço, CEP e expectativa.
Mesmo para mim, autoclassificado porta-voz da esperança e cantador da “volta por cima”.
Trabalho com frases todo santo dia e, se não me engano, é de Cassius Clay (Muhammad Ali), uma das mais impactantes e verdadeiras: “Quem viveu 50 anos e diz que ainda pensa como aos 20, perdeu 30 anos”.
A figura geométrica que representa as faixas etárias dos brasileiros, tem a denominação de pirâmide, porque a base da figura é maior do que as demais partes, que por sua vez vão decrescendo à medida em que se aproximam do topo (idades mais avançadas).
A representação desta faixa etária (acima dos 70 anos), sempre pareceu um simples pedregulho, ou seja, ao redor de 4% do total, tanto quanto me lembro.
Majestosa e firme, como se consciente de sua importância de esteio – ainda lá está o que chamo de pedra de 17 anos, uma espécie de sustentáculo e referência entre os recém-nascidos e os recém-votantes, digamos.
Por isso mesmo, sólida e significativa, sua presença sempre quis dizer “O Brasil é um país jovem”.
Na alvorada da 2ª década do Século XXI, a prolificidade (capacidade de proliferar) da raça humana, de forma geral, e do brasileiro, em especial, foi reduzida: ao exagero, na Europa, sob controle, na Ásia, por necessidade, na África e por livre arbítrio, no Brasil, o que produziu efeitos diversos e até inexplicáveis, dependendo de onde e como as medidas foram aplicadas.
Talvez, entre os grandes, o país que mais deixou as coisas rolarem ao natural, o Brasil abriu-se para uma série de procedimentos com os quais reduziu a taxa de natalidade, obteve um novo e melhor índice de mil nascimentos vivos após um ano, distanciou-se da África, aproximou-se da Europa e, muito importante, aumentou a expectativa de vida que chegou próxima dos 80 anos para as mulheres e dos 75 anos para os homens.
Em resumo: se percentualmente, no Brasil, estão nascendo menos pessoas e também morrendo menos, a grande consequência será a faixa etária média da população aumentar significativamente, daqui por diante.
E a nossa pedra de 17 anos?
Os jovens, tendo os de 17 anos como referência, são aqueles que ilustram os noticiários nos casos de acidentes a cada fim-de-semana; os crimes envolvendo drogas a cada fim de dia; os “estava no lugar errado na hora errada”, a cada confusão mais perigosa; os na mira do matador-em-série em colégios, lugares de grande movimento, passeatas de ciclistas etc.; são os mais encontrados pelas “balas procurantes ou perdidas”; os mais levados pelas águas sem controle; os soterrados pelas construções livres e criminosamente levantadas e são, também, os mais utilizados para a expansão dos vícios (em boa parte até por não perceberem que o 1º passo, no vício, é sempre dado com os dois pés).
Nossa figura geométrica está deixando de ser uma pirâmide e ganhando uma forma ainda não bem definida.
Até porque o Brasil também já está deixando de ser o país do futuro, na prática.