A construção de novas pontes sobre o rio Taquari será o principal assunto a ser discutido na próxima assembleia virtual da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), que ocorre no dia 8. O encontro terá a participação virtual do secretário estadual de Transportes, Juvir Costella e do diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (Daer), Luciano Faustino. A convite do presidente da Amvat, Paulo Kohlrausch, eles vão debater com os prefeitos do Vale, possibilidades de investimento em estradas e projetos de infraestrutura de transporte para a região.
A pauta ganhou peso após o acidente que comprometeu a estrutura da ponte no Km 350 da BR-386 sobre o Arroio Boa Vista, em Estrela, que levou motoristas a enfrentarem congestionamentos e desvios. A situação também já foi debatida na última reunião da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), realizada no dia 22 de março.
O presidente da CIC-VT, Ivandro Rosa, avalia que a construção de uma nova ponte será uma forma de alavancar a economia. Porém, ainda não foi decidido qual o melhor local para a nova estrutura. No momento, há três propostas de local para a futura construção: uma ponte ligando Cruzeiro do Sul e Estrela, aproveitando a Trans Santa Rita; entre o Porto de Estrela e o Arroio Boa Vista, próximo à ponte já existente na BR-386 e a terceira opção ligaria o bairro São Caetano, em Arroio do Meio, ao município de Colinas, opção que ajudaria a desafogar o fluxo de veículos na ERS-130 e serviria como rota opcional de ligação para a Serra Gaúcha, via Colinas e Imigrante. Devido às cheias nestas várzeas, também foi avaliada uma ponte entre a Barra do Forqueta e Estrela.
“A Região começou a discussão de forma errada. A participação da Amvat é fundamental, pois são os políticos que buscam os recursos”, frisa o prefeito de Arroio do Meio, Danilo Bruxel. Além da ponte sobre o rio Taquari, e da duplicação da ERS-130, o prefeito pretende fazer uma parceria com Lajeado para construção de uma nova ponte entre os dois municípios ao lado da Ponte de Ferro, que não recebe rodagem de veículos pesados e passará apenas a ter finalidade turística. “É uma maneira de desafogar a ERS-130”.
Mobilidade e integração regional
Para o empresário do setor imobiliário, João Carlos Hilgert, que também preside a Associação dos Profissionais e Empresas da Construção Civil, Setor Imobiliário e afins de Arroio do Meio (Apreciam), priorizar uma terceira ponte entre Lajeado e Estrela é um erro. Ele destaca que, desde o passado, as primeiras vias de mobilidade foram os rios e, depois, as estradas nas suas margens e, na sequência, travessias com balsas, proporcionando uma integração entre as vilas, picadas e comunidades da Região, fundamentais para seu desenvolvimento.
“No passado estávamos bem melhor servidos dentro da realidade daquela época. E analisando a Região como um todo, antes de uma ponte entre Lajeado e Estrela, precisamos de outras quatro distribuídas entre Roca Sales e Mariante. Também não precisamos da duplicação da ERS-130 e sim primeiro concluir a ERS-129. E com uma ponte entre Arroio do Meio até Colinas, o trajeto até Teutônia vai diminuir 15 km. Até para quem sair de Lajeado, chegará antes a Imigrante. Hoje cada município pensa para si. Mas o Vale precisa de mobilidade mais integrada”, defende.
Engenheiro de pontes se dispõe a ajudar
O engenheiro de pontes Hildo Artur Mourão da Silva, 67 anos, aposentado de carreira do Daer e com longa atuação na Superintendência de Lajeado, comentou os critérios para construção de uma nova ponte. Além de todas as pontes do Daer, nas férias e licenças prêmios, Mourão desenvolveu pontes para o Dnit e municípios, ultrapassando a marca de 100 pontes em todo o Brasil. “Nunca tirei férias. Sou bom em projetar pontes e gosto disso. Na minha carreira fiz pontes quase impossíveis”, declarou.
Em âmbito estadual, o grande destaque vai para a nova ponte sobre o Rio Jacuí entre Porto Alegre e Guaíba e, no Vale do Taquari para a ponte entre Travesseiro e Marques de Souza. “Antes do início da construção, fui muito questionado sobre a altura, que era vista como exagerada. Entre os cálculos estava incluso o maior volume de chuvas em mil anos. Pouco tempo depois da inauguração, ocorreu uma enchente histórica e o nível do rio ficou 1,5m abaixo da viga inferior”, relembrou.
Mourão explicou que a engenharia de pontes alia física, matemática e economia, geralmente procurando o menor custo possível, com garantia. “O tabuleiro da ponte não é preso à viga, nem a viga aos pilares. Isso evita ‘impactos’ com as diferentes dilatações. Dependendo da localização da ponte, largura do rio e altura da margem, é preciso considerar o maior volume de chuvas para 100, 500 ou 1000 anos. Além do volume de chuvas é necessário estudo de baiximetria, que é o desenho da parte de baixo do rio. Diferentemente de obras civis e estradas, uma ponte é uma obra única, como uma peça de alfaiate, precisa ter garantia vitalícia. A única coisa que não pode ser prevista são intervenções feitas pelo homem no leito do rio, como barragens para irrigação ou eletrificação, que tendem a elevar a onda da cheia. Um dos motivos que provocou a queda da ponte entre Agudo e Dona Francisca”, esclarece.
O engenheiro dispõe de um software exclusivo para projeção de pontes e não descarta elaborar o projeto quase de graça, tendo apenas os custos ressarcidos. “Estou enjoado da aposentadoria e para mim projetar uma ponte é fácil como tomar refrigerante”.
Infraestrutura viária e elétrica
A participação do secretário estadual de Logística e Transportes, Juvir Costella na próxima assembleia da Amvat, foi confirmada no início da semana, durante videoconferência realizada com prefeitos da região e lideranças estaduais, intermediada pela Casa Civil, para tratar de demandas regionais relacionadas à infraestrutura viária.
A reunião virtual realizada nessa segunda-feira contou com a participação do secretário-chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Artur Lemos Júnior, Juvir Costella, o diretor-geral do Daer, Luciano Faustino; o deputado federal Lucas Redecker e o chefe de gabinete da Casa Civil, Jonatan Brönstrup. Do Vale, participaram o presidente da Amvat, Paulo Kohlrausch, e os prefeitos Germano Steffens (Imigrante), Sandro Herrmann (Colinas) e João Schäfer (Estrela).
Além da possibilidade de um estudo de viabilidade para a construção de uma nova ponte sobre o Rio Taquari, os prefeitos solicitaram auxílio na manutenção das estradas que estão sendo utilizadas como rotas alternativas enquanto a estrutura sobre o Arroio Boa Vista está sendo reconstruída. Da mesma forma, reivindicaram ao Estado que intervenha junto à CCR Via Sul, concessionária da rodovia, para que agilize a obra de reconstrução da estrutura danificada.
Energia elétrica
Kohlrausch também participou de videoconferência, na terça-feira, com o consultor de Negócios da RGE, Umberto Santana, para tratar sobre o plano de atuação da concessionária de energia para o Vale do Taquari, que deve ser apresentado aos prefeitos da região numa assembleia da Amvat no fim de abril.