O futebol, como nós o conhecemos, tem pouco mais de 135 anos, porém suas origens remontam a de-zenas de séculos. Mas basta a história recente deste fascinante esporte para dizer o que pretendo, com esta crônica.
Você já experimentou andar pelas ruas da cidade com uma bola de futebol nas mãos? Faça o teste. É definitivo. Lá pelas tantas, “deixe-se perder” a bola por entre as mãos e faça com que role na direção de qualquer pessoa, desde que ela tenha mais de 1 ano de idade e menos de 90.
A reação sempre será incrível. Você verá cidadãos de terno e gravata fazendo “balãozinho”, respeitáveis senhoras devolvendo-a com o bico bem cuidado de seus sapatos, guris arriscando-se no meio do trânsito para alcançá-la antes de você e devolvê-la como num passe de mestre, moças querendo mostrar que “futebol não é só pra homem” e o time da “melhor idade” tocando-a num gesto de cumplicidade.
E isso não acontece só no Brasil. O futebol já paralisou duas Guerras e suspendeu demonstrações de violência para que Pelé e seus companheiros pudessem se apresentar. Isso feito, a Batalha continuou, bem mais amena, é preciso dizer.
E o que faz do futebol esta febre contagiante e boa, esta emoção transmissível e avassaladora?
O fato de ele não ter lógica, se me permitem. Nos últimos tempos, ele até já aceita conviver, por exemplo, com os avanços da tecnologia – bola com chip para ver se passou a linha do gol ou não, bandeirinhas com controles para alertar o juiz… e outros mais que estão sendo testados ou inventados.
O futebol só não admite quem ouse devassar a intimidade do seu escultural corpo de 90 minutos, na busca de sinais que trouxe de nascença, como o erro de um juiz, por exemplo.
Nasceu o futebol, nasceu o juiz, com seus erros e acertos.
O juiz que decide errado nos dois segundos de um lance fatal é punido com a vaia destinada aos piores criminosos. Se ficar claro que o erro foi intencional, a ele é destinado o desprezo que merece um delinquente, pois acabou de violentar o desejo de uns, a esperança de muitos e a confiança de todos.
Das imperfeições de juízes e bandeirinhas, também é feito o futebol.
Faz parte do espetáculo, assim como o touro quando, à revelia da lógica e do toureiro, dribla o vermelho da capa e acerta o pequeno ponto branco do vistoso colete.
Em 2005, o senhor Luiz Zveiter, ao desconhecer do que o futebol é feito, anulou, por livre e espontânea insensatez, onze partidas do maior e mais admirado campeonato de futebol do mundo e mandou milhões de brasileiros pensarem em algo mais proveitoso para fazer nos fins de semana, como passear de bicicleta, caminhar ao vento ou dançar na chuva.
Em nome de tudo o que escrevi acima, sugiro que não ocorra, a partir do ano que vem, a propalada distribuição de R$ 200 milhões da TV entre Flamengo e Corinthians, ficando valores muito menores para serem distribuídos entre todos os demais. A Espanha, que parece ter só Real Madrid e Barcelona, usou esse mesmo critério errado na distribuição de cotas.
O povo precisa de Pão e Circo, segundo os antigos e exigentes gregos.
O Pão? Há trabalho para que se possa comprá-lo. O Circo? Se for aumentada a temperatura, pode pegar fogo!