Há um ditado árabe que diz: “o Mar brigou com o Vento e quem perdeu foi o barquinho”. Aplicando à prática, não há o que modificar ou esclarecer: os árabes, há mais de um século, anteciparam o que há décadas costuma acontecer na área da Educação Gaúcha.
Que boa parte dos professores gaúchos, – talvez a maioria – recebe salário muito inferior ao merecido, até no comparativo com os demais estados brasileiros, é um fato.
Que o governo gaúcho empossado este ano, tentou o acordo através de vários encontros, todos sob a luz dos faróis da mídia e até deixar a impressão de que desta vez a bonança substituiria a tempestade, também não fica a menor dúvida.
O detalhe é que ao faltarem menos de dois meses para o final da viagem ao País do Ano Letivo Ideal, a Ventania de sempre (leia-se “Reivindicações cujos percentuais são sempre múltiplos da inflação anual”) acabou formando ondas que prejudicam a navegabilidade do Mar da Educação, mais uma vez colocando em perigo a jornada, até aqui em aparente calmaria, dos dois tradicionais barcos que viajam.
Nada que possa ser considerado novidade, pois ano letivo sem greve do magistério até acontece, mas, ao que me lembro, o motivo das águas mansas, pelo menos em quatro deles, não foi o atendimento de grandes pendências, mas sim, a escolha de uma Secretária inclinada ao diálogo que, também lembro, conhecia muito bem os dois lados, o do Mar e o da Ventania.
Os barcos navegaram, mas a Ventania não teve força nem para empurrar as velas. O certo é que quando o ano letivo gaúcho começa, começam também as orações de todos e a Todos os Santos, por dois motivos: que as aulas sejam proveitosas e a greve, evitada. Nesse jogo, os alunos acabam sempre perdendo de goleada. Respeito o governo e os professores e sei que o Zelo Administrativo de um, é justo e a Luta pelos Direitos de outro, também.
Como todos dependemos de um acerto entre ambos, sob pena de os barcos afundarem sempre mais, até o limite, entendo ser fundamental o respeito entre as duas partes, respeito que me parece ter sido perdido com a campanha “nariz de Pinocchio”, com a qual os professores como que forçaram o fechamento de portas da área governamental.
Neste caso, teria sido evocado para uso da agressão contra o Governo, outro ditado: “quando quem manda perde a vergonha, quem obedece perde o respeito”.
Não vi perda da vergonha pelo governo a ponto de receber, como resposta, o desrespeito da agressão do filho do Gepetto. Agora, não há como duvidar: se o nível do diálogo não subir, os barcos, que por sinal têm o mesmo nome, irão água abaixo junto com a valiosa carga. Lamento, porque tive grandes Professores (as) e o Rio Grande, grandes Governos.
Destes, o que aí está me parece capaz de dialogar, principalmente com os professores. Ah, sim, os barcos: os dois têm origens diferentes, Pública e Privada, mas são xarás, chamam-se Futuro. E merecem chegar ao seu destino.