Em dia com a correspondência:
“Prezado Raul Moreau:
Fui conquistado pela Portal Mix há uns quatro anos, mais ou menos, quando li em alguns jornais do Interior, matéria sobre o aeromóvel, veículo que já considero obrigatório para os anos que estão a caminho, nesta viagem que o Rio Grande e o Brasil fazem, em direção ao futuro.
Poucos dias depois, ao visitar outra Região do Interior, “encontrei” na tua página o Saint-Hilaire, botânico e naturalista francês, em sua movimentada e proveitosa viagem ao Brasil, a convite Imperial.
Lembro que ao regressar à França, seis anos depois (1822), levou ele, daqui, apreciáveis amostras da Flora Brasileira deixando, em troca, sugestão de projetos e obras a serem realizadas.
Lembro do empenho que tiveste, a partir de então, em cobrar das autoridades competentes a utilização dos rios e lagoas relacionados por Saint-Hilaire e sua transformação em “estradas navegáveis”, o que, penso, não saiu do papel até agora.
Essas duas lembranças que guardo dos meus encontros com a tua página, provocaram esta correspondência, na qual quero salientar alguns aspectos que não vejo serem explorados na mídia gaúcha e brasileira , mas que são indiscutíveis aplausos à privilegiada situação do Mercosul, tema no qual me especializei na UFRGS.
A descoberta do Pré-Sal no seio do Atlântico, caro Moreau, foi e está sendo um grande passo no sentido de reativar o Mercosul, por incrível que pareça.
De onde vem minha certeza sobre isso?
De várias origens. Por exemplo: tenho absoluta certeza de que se o Pré-Sal e sua incalculável fortuna em petróleo submerso tivessem sido descobertos em águas de outro Oceano, que não o Atlântico, a situação econômica dos países do Euro, estaria consideravelmente melhor.
Uma prova?
Sempre estive interessado em saber tudo sobre a cobiça da Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas (hoje Falklands), pois o próprio material de leitura que abordou o tema, gerado no mundo inteiro, sempre deixou a dúvida que ali havia alguma estratégia ligada ao petróleo; aliás, de tempos em tempos, havia rumores de que grandes bacias petrolíferas estariam situadas no Atlântico Sul.
As Malvinas, como se sabe, são vizinhas da Terra do Fogo, arquipélago que forma a extremidade Meridional da América do Sul, separado do Continente pelo Estreito de Magalhães.
Na minha concepção, caro Moreau, o Pré-Sal e Mercosul, poderão exercer, em conjunto, um papel preponderante no desenvolvimento social das Nações a eles ligadas, haja vista que a Argentina e Uruguai, neste exato momento, buscam estabelecer vínculos com a indústria naval brasileira, investindo, através do Mercosul, no âmbito da Integração Energética e Infra-Estrutura Regional.
Passados quase dois séculos da obra de Tocqueville, escritor político francês (1805/1859), não há como não admitir a relevância das Associações de Interesse no processo de Integração Regional.
As diferenças estabelecidas pelos Foruns de Davos (Econômicas) e Mundial (Sociais), foram antecipadas em quase dois séculos por Allexis Tocqueville que, dá para dizer, utilizou, à época, exemplos muito próximos do que seria o Mercosul, hoje.
O avanço dos processos de Integração Regional é irreversível. Sua atual lentidão, no meu ponto de vista, decorre da forma pouco democrática e aberta com que se desenvolve, desestimulando o debate e enfatizando, apenas, as amplas vantagens políticas de cada país.
É preciso institucionalizar os mecanismos democráticos e ampliar o processo de Integração Regional do cidadão comum.
Só assim, meu amigo, nosso Cavalo de Troia, o Mercosul, romperá barreiras de forma permanente e vitoriosa. Caso contrário, é só dar uma olhadinha na Grécia…
Com um abraço do leitor e admirador, Fábio Böckmann Schneider, Advogado e Professor Universitário.”