Realizar os sonhos da Classe Média brasileira sempre foi a promessa mais insistente de todos os políticos ao longo da segunda metade do século passado, no país. Por esse motivo, o verbete Classe Média frequentou com assiduidade as manchetes e os noticiários políticos e econômicos nacionais, quando todos buscavam vestir a camiseta de um time com tantos torcedores quanto o CMFC, Classe Média Futebol Clube, claro.
E o que significava ser integrante desse time?
Ora, ser da Classe Média significava estar situado entre a Classe A e a Classe C, ou para que todos possam melhor localizar, era prover o atendimento de todas as necessidade básicas do bem-estar pessoal e familiar, cuidando de não exagerar na medida, ao mesmo tempo não se privando das exigências fundamentais.
E quais seriam essas exigências?
A relação iniciava pela Casa Própria, que deveria estar equipada com todos os eletrodomésticos imprescindíveis e outros secundários, como um bom rádio de cabeceira (final dos anos 50), um bom sistema de som (com o indispensável toca-discos) e mais tarde, um bom televisor em preto e branco – este, a partir de 1963, o sonho de todo o país.
Grande parte das garagens da Classe Média abrigava seu próprio automóvel (panorama já dos anos 80), não necessariamente o “Carro do Ano” ou um “Carro Zero”, mas um veículo que tornasse possível independer do sistema de transportes públicos.
Os filhos da família Classe Média, em alto percentual, frequentavam as escolas particulares, as quais, desde o final do regime de exceção, garantiam o período escolar cumprido à risca, livrando seus alunos das greves, desde sempre necessárias para satisfazer a mínima qualidade de vida requerida pela Classe Docente Pública, nunca obtida sem o uso de todas as pressões, o que vale até hoje.
Nem todo o cidadão da Classe Média tinha sua Casa na praia, mas lembro que era comum encontrar integrantes das famílias da Classe Média ostentando os rostos vermelhos e luzentes, graças às carícias do sol da beira-mar gaúcha.
Lazer, alimentação, vestuário e viagens de turismo constituíam-se em símbolos de comprovação da diferença de posição social, a cada período.
Por tudo o que representava a Classe Média até há bem pouco tempo, quando ameaçava desaparecer da relação das camadas sociais do país, é que fiquei feliz ao saber que, hoje, ela abrange 51,0% da população brasileira (nunca conseguiu ser mais do que 35,0%).
Fiquei surpreso ao saber que, famílias com renda mensal de R$1.100,00 são hoje consideradas de Classe Média, o que significa dizer que, com apenas 3 salários mínimos já se pode garantir, hoje, no Brasil, as mesmas vantagens e sonhos que descrevi ao longo desta crônica.
Saber que uma família com renda mensal de R$4.600,00 é hoje considerada da elite social, me fez perceber o milagre da multiplicação da riqueza produzido nos primeiros oito anos deste século, quase igualando um outro fato muito parecido, ocorrido nas Bodas de Canaã, há quase 2 mil anos atrás.
Observação atual: penso que caiu agora a ficha para sabermos que a Classe Média de hoje nada tem a ver com a privilegiada Classe Média de outras décadas, com seu poder de compra muito superior ao da atual.
Ainda: na campanha de 2006, não foram os políticos da própria base do governo atual que chegaram a falar em salário mínimo de R$1.500,00, como o necessário para prover a qualidade de vida garantida pela Constituição?