Os filhos são o maior presente da vida!
Por isso constituem fonte de eterna preocupação. São tratados como “as crianças” para sempre. Mesmo que já tenham seus próprios filhos. A tarefa de educar é mais complexa a cada dia porque esbarra em desafios da modernidade que gera tentações irresistíveis.
Sempre fui amigo dos meus filhos. Ou pelo menos tentei.
Isso pode parecer óbvio, mas requer muitas habilidades. Na medida que crescem, a convivência doméstica diminui dramaticamente. A rua vira palco principal; faculdade, amigos, baladas e variantes ocupam quase que integralmente a agenda. Os pais nadam ferozmente contra a correnteza para não perder de vista “as crianças” que parecem desaparecer no horizonte.
Atrair os amigos dos filhos para dentro da nossa casa é uma estratégia eficiente para conhecer a origem das novas companhias. Semanalmente recebo jovens em minha casa. Costumo varar as madrugadas fazendo o que chamo de transporte juvenil. Nas duas ocasiões aguço o ouvido, reparo nas palavras e expressões, principalmente quando se referem aos pais.
A constituição das famílias está distante da lógica da minha juventude. Para o bem e para o mal. O casamento sofreu mudanças profundas. Permite até o chamado “test drive do amor”, ou seja, o compartilhamento da moradia sem oficializar a relação. Cada um escolhe a modalidade, adapta como convém, constrói a relação como achar conveniente.
Nesta enxurrada de novos valores os filhos jovens navegam em mares turbulentos onde dúvidas, hormônios e rebeldia se mesclam numa mistura de resultado explosivo. Drogas, álcool e ócio são fantasmas que invadem o coração dos pais, especialmente nesta época do ano.
Férias é sinônimo de preocupação. No meio da tarde somos assaltados pela pergunta fatal. “O que será que eles estão fazendo?”. É difícil manter a concentração no trabalho. O instinto sugere ligar, mas o celular está desligado. A vontade é correr, instalar um GPS na gurizada para monitorar cada passo.
A relação com os filhos é uma montanha russa. Momentos de euforia se alternam com conversas ríspidas, permeadas por cobranças e pela saraivada de impropérios mútuos recheados por decepções. Conciliar nossa experiência de jovens reprimidos com as exigências de liberdade total implode o ambiente, tenciona a rotina. É difícil convencê-los de que pretensos amigos são riscos iminentes, exemplos nefastos e conselheiros temerários.
Conviver é ceder, moldar-se, aperfeiçoar, perdoar, admitir erros. É um exercício permanente de sobrevivência. Independentemente da idade. Afinal, filho é para sempre. De preferência com harmonia, equilíbrio e respeito mútuo.