Estamos a um mês do 123º Aniversário da Proclamação da República, cuja comemoração é cada vez menos festejada, muito embora indispensável para que possamos chegar a uma democracia cada vez melhor.
É pois, importante, lembrar 1870, quando o Partido Republicano foi fundado no Brasil e estava em fase de crescimento o Exército Imperial, cujo prestígio andava nas alturas face à sua então recente vitória na Guerra do Paraguai. O aquecimento da máquina republicana levou quase uma década e só em 1879, três gaúchos, Júlio de Castilhos (imagem ao lado), Assis Brasil e Joaquim Pereira da Costa fundaram, na Faculdade de Direito de São Paulo, o jornal político A Evolução, que serviria para Júlio levar aos quatro ventos a propaganda republicana, bem ao tempo em que o Império começava a caducar, não tanto pela idade do Imperador, mas pelos 70 anos de exercício da monarquia em terras brasileiras.
Menos de meia década depois, o prestígio de Júlio de Castilhos era tão expressivo no Brasil, que em sua atividade de jornalista ele ousou explorar as punições do Ministro da Guerra a oficiais superiores, motivadas por manifestações “além do permitido”, o que serviria para aumentar o fosso entre o Exército e o trono, na chamada “Questão Militar”.
Em 1888, Aparício Mariense, um vereador de São Borja (de lá mesmo, da terra de Getúlio, que recém completara cinco anos) seguiu o exemplo de Júlio de Castilhos e apresentou uma moção, na Câmara de São Borja, propondo à Nação uma consulta plebiscitária, cujo tema seria “sendo a herdeira do trono brasileiro uma senhora casada com um príncipe estrangeiro e obcecada por sua educação religiosa, conviria deixá-la assumir o trono, sucedendo a D. Pedro II?”.
A guerra ao 3º Reinado (dois Dom Pedros mais a Princesa Isabel), iniciada por Mariense e encampada por Júlio de Castilhos, foi “esquentada” por Pinheiro Machado, Ernesto Alves, Fernando Abbott, Assis Brasil e Demétrio Ribeiro, em constante elevação do clima de inconformismo, cujo ponto culminante chegou no dia 07 de junho, quando, na Câmara dos Deputados, o Padre João Manoel encerrou seu pronunciamento com um caloroso Viva a República, saudado e seguido pela maioria dos presentes.
Acabei de descrever que, em resposta à insatisfação de um vereador do interior do Rio Grande do Sul, uma seleção dos melhores jornalistas e homens públicos do Brasil entrou em campo para defender o exercício do plebiscito, o que enfatizo não pelo tema a ser examinado pela Nação mas pela ferramenta – o plebiscito – a ser utilizada.
A diferença de 120 anos entre as duas épocas, não é suficiente para explicar o porquê da nossa decantada imprensa política brasileira, cravejada de brilhantes nomes, não se insurgir contra uma Câmara de Deputados lotada de improdutivos gazeteiros – que são a minoria, mas já chegando ao meio a meio – para reduzir o excesso de contingente que a ditadura implantou e a volta à democracia não teve o poder de implodir.
Uma bela forma de come¬morar-se os 122 anos de República seria lembrarmos, através da marcação de um Plebiscito, que a Câmara Federal funcionava muito melhor quando tinha 200 deputados a menos. E tratar de voltar rapidamente ao Estado de Direito.
O que está lá acabou merecendo uma declaração do ex-presidente Lula, há tempos atrás, segundo a qual “300 entre os deputados federais não eram lá muito boa coisa!”.
Teria ele razão?