A frase-título de hoje tem bem mais do que 3 séculos. Escrita por Blaise Pascal, matemático, físico, filósofo e escritor francês (1623-1662) seu conteúdo resume a experiência do autor que viveu apenas 39 anos e em Paris. Em sua curta existência, Pascal teve, desde os 16 anos, uma vida dedicada a pesquisas sobre os mais variados temas, dos quais as Cônicas – na Geometria, 3 curvas obtidas a partir de intersecções de um plano com um cone reto – ponto de partida para uma série grande de experiências.
Aos 18 anos, Pascal inventou uma máquina de calcular, sempre com o objetivo de reduzir o muito que, segundo ele, não conseguia entender bem. Mas era o desafio que ali estava.
Para ele, a humanidade devia muito às leis da pressão atmosférica e do equilíbrio dos líquidos, ao triângulo aritmético e ao cálculo das possibilidades, à prensa hidráulica e à Teoria da Cicloide – na Matemática, curva composta pelo ponto de um círculo que gira sobre uma reta fixa sem desligar.
Blaise Pascal faleceu em 1662, antes de terminar uma Apologia da Religião Cristã, cujos textos foram publicados com o título de Pensamentos.
No plano literário, sua obra contribuiu para modificar a prosa francesa dando-lhe uma forma de expressão clara e vigorosa.
Do ponto de vista moral, orientou o pensamento de seu século para o combate da imperfeição e dos vícios.
Dele se pode dizer que foi o construtor – pela antevisão – do Classicismo francês.
Ao ler sobre Pascal, me veio, na hora, o esforço de Gutenberg, dois séculos antes, no afã sem pausa de criar seu sistema impressor e também de Landell de Moura, o Padre Herege, no desespero de dar vida ao rádio (que havia inventado antes de Marconi, mas sem o reconhecimento de quase ninguém, na época).
A frase de Pascal, título desta crônica, dá uma ideia não só dos desencontros que se verificam, tempos afora, mas do quanto representa para a humanidade o esforço e a dedicação daqueles que acreditam no valor do que criam e impõem (no bom sentido) ao aproveitamento dos demais, muitas vezes na dependência de um exame um pouco mais detalhado ou da análise mais completa do que acabou de demonstrar e que lhe pareceu não ter merecido a devida atenção.
Foi com este espírito e conceito que comecei a escrever, há alguns anos, sobre o aeromóvel de Oskar Coester, a partir de agora não mais apenas olhado e não utilizado, mas também capacitado a prestar serviços de transporte jamais imaginados antes de l970, ano em que o inventor decidiu enfrentar a luta pela vida de sua criação.
A partir de agora, o aeromóvel é da humanidade, ainda que, por enquanto, em pequena escala.
O aeromóvel, um veículo leve para o transporte coletivo de passageiros, com custos de energia e manutenção inferiores aos de um automóvel aí estará com base no conjunto roda/trilho, a parte mais íntima da criação e que indiscutivelmente solicitou o maior esforço e conhecimento, justamente porque ainda não havia sido utilizado no sentido mais amplo desta palavra.
Ali estará um veículo feito para todos e por esses mesmos, esperado.
Instalado em Djacarta, capital da Indonésia em 1989, funciona até hoje recebendo apenas revisões de rotinas, para garantir um funcionamento perfeito.
Portanto, com todas as etapas de avaliação aprovadas, chegou o aeromóvel, funcionando como um barco a vela, isto é, por energia eólica um deslize em trilhos de baixo-atrito, com a vela empurrada através de um túnel de vento.
O aeromóvel, o “charutinho de alumínio” de Oskar Coester, começa a mostrar que, com frequência, não procedem os entraves colocados nos inventos que mudarão o cotidiano.
Senão vejamos: “Quando a Feira de Paris terminar, nunca mais se ouvirá falar em luz elétrica” (Erasmus Wilson, Oxford University, 1879).
Para o aeromóvel, tanto faz. Ele é movido a ar.