A insistência no trato de um assunto, como é a cadeia de produção de leite, se justifica por sua importância econômica na manutenção de milhares de pequenas propriedades da agricultura familiar.
Diante do quadro que hoje temos à nossa frente, é possível compreendermos um pouco mais o significado dos sinais que vinham sendo dados nos últimos anos, lembrando especialmente a Instrução Normativa 51, de 18 de setembro de 2002, que posteriormente foi alterada e adaptada pela Instrução Normativa 62, de 29 de dezembro de 2011. Esses “Instrumentos Regulamentadores” contêm orientações e definições de como devem ou deveriam ser conduzidos todos os aspectos relacionados às atividades de produzir, transportar, industrializar e comercializar o leite, um alimento essencial para qualquer pessoa.
Em diversas ocasiões destacávamos sobre a possibilidade de ocorrer um processo seletivo, o qual eliminaria um grande número de produtores, menos preparados e com dificuldades para atender aos requisitos técnicos que as regras estão impondo.
Por um longo período a fiscalização foi omissa. Quando esse processo iniciou e se intensificou, deu no que deu. E a partir daí já assistimos a inúmeros episódios, com prisões, fechamento de indústrias, inadimplência ou calote de outras, restando como grandes vítimas um expressivo número de produtores.
Há regiões no Estado onde os produtores não têm para quem entregar o leite produzido, pois os leiteiros deixaram de recolher o produto.
Investimentos feitos, com recursos próprios e muitas vezes com dinheiro público, a adoção de uma atividade econômica, de renda mensal mais garantida, além de ser uma forma de manter as pequenas propriedades ativas e o agricultor no interior, sobretudo o jovem agricultor, todos esses propósitos podem estar desmoronando, vislumbrando-se, talvez, uma produção empresarial.
No cenário ou na discussão dos “acertos de contas”, dos débitos que algumas empresas têm com produtores de leite, temos fatos de muita gravidade. Por exemplo, as propostas de pagamento das dívidas em 10 anos e mais dois anos de carência, não parece algo absurdo? Como fica o produtor que investiu na atividade, adquiriu insumos mas tem as contas pendentes, que tem as contas de consumo de energia e de água a acertar, ou que adquiriu, através de financiamentos, máquinas e implementos, pelos Programas de governo, como o Mais Alimentos, na expectativa de ter o necessário retorno, com uma atividade que parecia estar sólida e confiante?
O leite que milhares de produtores entregaram às indústrias e que resultou nas contas não pagas deve ter sido industrializado, comercializado e consumido. Portanto, ele foi transformado em dinheiro e esse dinheiro foi para onde?
UM NOVO ALERTA
O comentário acima retrata, mais uma vez, as conseqüências de fraudes na atividade de produção de leite. Podemos e devemos lembrar de outros episódios já assistidos, que também deixaram memoráveis lembranças, como “adubo papel”, “Coopave”, “Farol”, e um próximo capítulo poderá ter relação a fábricas de rações.
Desconheço a sua origem, mas existem boatos de que uma próxima investida deverá ser uma intensa fiscalização, por parte de órgãos competentes, nas empresas fabricantes de rações para alimentação de animais, espécies diversas. Comenta-se que o fator “qualidade” revelaria, se feitas análises minuciosas, comprometimentos assustadores, questão hoje facilitada por rótulos e informações não condizentes com a verdade. Os ditos “responsáveis técnicos” serão peças-chave para contribuições fundamentais. Russos, mexicanos e outros tantos importadores de carnes estão de olho nas análises dos produtos brasileiros adquiridos.