Acho fundamental começar esta matéria, que trata do assassinato (tem outra forma de escrever isto?) do brasileiro Jean Charles de Menezes, com a patética declaração feita, um dia depois do crime, pelo Ministro da Justiça britânico, Charles Clarke: “Só tenho elogios e admiração pela maneira como a polícia cumpriu sua missão. A polícia está fazendo o melhor, sob as mais impressionantes condições”.
Para podermos esclarecer o que o Mr. Charles quis dizer, acho fundamental encaminhar-lhe uma inocente perguntinha: se o pseudo terrorista morto a sangue frio, tivesse se identificado como cidadão inglês, o procedimento teria sido o mesmo? Na hipótese de, ao respondê-la, Mr. Charles continuar a ser tão compenetrado da importância de defender a Scotland Yard, uma segunda pergunta seria decisiva: “e se o cidadão, mesmo inglês, morto com 8 tiros na nuca, isto é, pelas costas e no chão, fosse seu filho, o senhor ainda seria todo elogios e admiração? ”.
O terrorismo, conforme opinião que divulguei há cerca de um ano, nesta mesma página, é a pior doença dos últimos 30 séculos e capaz mesmo de levar as pessoas a cometerem os maiores abusos, em nome de sua extinção.
O que, como se viu, muitas vezes transforma o Sherlock Holmes em criminoso frio e desalmado, duas “qualidades” exigidas também para ser terrorista.
Jean Charles de Menezes, nascido em Gonzaga, Minas Gerais, por coincidência um xará do Ministro inglês, nas fotos que o mundo inteiro estampa com pesar e revolta, passa a ideia de ser apenas um jovem tranquilo e esperançoso e ter se esforçado para chegar à Inglaterra, sonho de muitos.
Mas eu quero, só por um momento, analisar a ideia de que ele possa ser culpado de algum ato mais agressivo. Cruel, mesmo. Aí, cabe outra pergunta: “está decretada a Lei de Talião? É olho por olho, dente por dente?”. Com o que, então, familiares de Jean Charles podem avocar para si o direito de sairem por aí (em Londres, claro), atirando a esmo em policiais ingleses, já que eles, como Jean, fazem parte do grupo suspeito de haver matado seus irmãos? O pai de Jean pode sair matando Sherlocks, na esperança de chegar ao assassino do filho?
O homem que “se recusou parar”, dentro de um vagão de metrô, ali estava, no chão, imobilizado e de costas!!! Como se diz covardia em Inglês? E terá sido só uma covardia? Duvido que isto não possa ter outros nomes, como prepotência, abuso de poder, bestialidade, ignorância e estupidez (única das formas perdoáveis, porque falta de juízo é sinônimo de insanidade, loucura, demência).
Seria uma boa o Planeta Terra dar uma parada, de vez em quando, para que todos possam conversar melhor sobre o que cada um está fazendo dos seus sentimentos, de sua área de atuação, de sua forma de ver os demais. Isso evitaria que hoje tivéssemos um Ministro inglês louvando um crime como se fosse um bom serviço prestado, comendo seu “roast-beef” e saudando a aula de economia que foi matar um jovem inocente, pelas costas, só com oito tiros.
“Bem feito e barato”, pensa Mr. Charles, o Ministro. Em seguida, pede a sobremesa. De preferência, com frutas do Brasil.