Cada pessoa é diferente de outra em pequenos detalhes, o que explica o porquê de aquilo que alegra uns, preocupar outros, entristecer a terceiros e dar calafrios em mais alguém logo ali adiante.
Isso independe de classe social, estado civil, sexo, educação, religião e tudo o mais. “O que dá pra rir, dá pra chorar”, diz o velho tema do Billy Blanco, sambista e letrista de 1ª grandeza, que volta e meia lembro nesta página.
Pois bem: confesso que cada vez vivo mais situações que me provocam calafrios, aqueles arrepios que correm pela espinha quando há situações de medo ou de frio, contraindo a pele e as fibras musculares.
Tenho calafrios quando leio que um deputado, uma Comissão ou um Grupo deles, viaja a algum país do mundo para ver como funciona lá este ou aquele serviço, esta ou aquela organização. Como conheço vários deputados corretos e bem intencionados, sei que, no fundo, a maioria deles quer mesmo o que funciona bem, pelo mundo afora, para depois aplicar aqui.
Aí, o frio na espinha.
Assim como cada pessoa é ela mesma e tem que ser tratada individualmente, com seus hábitos e sonhos, manias e preferências assim são os países. Por mais que possam ter semelhanças e afinidades, o que explica o fato de não serem exatamente iguais são os pequenos detalhes, justamente aqueles que uma delegação de deputados não vê como visitante e um turista não distingue em vivências menores que um ano.
Ao retornarem, cheios de boas intenções, das quais se diz que “o inferno está cheio”, tentam aplicar aqui o que deu certo lá. E aí, o fracasso.
Como vai funcionar um carro a álcool no Canadá, por exemplo, se este é um combustível para países tropicais e lá a temperatura está quase sempre próxima do zero?
No meu ponto de vista, é o caso do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente. “Uma Legislação de 1º Mundo”, é o argumento mais usado. “O mais avançado conjunto de Leis”, dizem todos.
E eu, brasileiro e já bem vivido, um tanto pela idade e outro por estar sempre observando tudo, examino os detalhes, às vezes até utilizando uma simples conta de somar.
O adolescente dorme oito horas por dia – calculo – e estuda outras quatro. São doze, até aqui. Mais outras duas para refeições, cuidados pessoais, detalhes etc..
E o que ele faz nas demais dez horas que lhe sobram, se a Lei (ECA) o impede de trabalhar, mesmo que ele tenha 15 ou 16 anos e sinta-se desejoso e capacitado de fazê-lo? Em que ocupará seu tempo livre, se não há lugar para ele nos mínimos espaços criados para lazer de poucos? Como estamos falando em Brasil, 300 mil, 500 mil são poucos, quando os adolescentes aqui chegam a vários milhões.
Assim, também, são as cadeias.
Não tenho lido sobre deputados viajando para ver como funcionam as prisões nos países mais avançados.
Mas, enquanto eles não viajam, gostaria de lembrar um pequeno detalhe: lá, as cadeias existem!
Aqui, existem depósitos de presos, celas de horror e tragédias, nas quais as pessoas são obrigadas a se comportar como animais, para sobreviver em um ambiente animalesco. O Brasil precisa construir dezenas de presídios, feitos de acordo com nossa experiência e com o objetivo de receber nossos presos. Que, aliás, deveriam ser vigiados por quatro ou cinco vezes mais agentes penitenciários do que hoje, pagos à altura para fazer, em segurança, o que hoje lhes custa a vida, não raras vezes.
Mas de onde tirar dinheiro para tudo isso?
A estória de que “construir escolas é não ter que construir presídios”, só funciona em países que vão começar do zero.
Para quem já tem uma população carcerária jogada em centenas de celas imundas, quando necessitaria de milhares de celas limpas, não funciona.
Aí entra o “olho por olho, dente por dente”.
Como pretender que Seres tratados como animais reajam como gente?