Os humores da política nas primeiras décadas do século XX, realmente possibilitaram que o título desta matéria possa ser totalmente verdadeiro.
E já que o destino quis assim, então que seja com Loureiro da Silva, considerado um dos melhores prefeitos que a Capital do Estado já teve.
Poucos homens públicos viram o futuro com tanta nitidez e contornos tão reais quanto ele. Nascido em Porto Alegre (19/03/1902), fez da Capital do Estado o grande motivo de sua paixão, muito embora seu espírito inquieto e desbravador o levasse a ser um caso raro na política brasileira, também por um fato extremamente curioso.
Loureiro da Silva foi Intendente (o mesmo que Prefeito) de Alegrete em 1925, aliás, ano em que foi nomeado também Delegado de Polícia do 3º Distrito de Porto Alegre, logo depois.
Em janeiro de 1930, foi nomeado por Getúlio Vargas, então Presidente do Estado, Subchefe de Polícia da 5ª Região Policial, com sede em São Gabriel. Quatro meses depois foi nomeado Intendente de Garibaldi, para meio ano depois ser novamente nomeado Intendente de Taquara e, um ano depois, voltar a assumir outra prefeitura (Intendência), desta vez em Gravataí.
Em 1932, participou da fundação do PRL (Partido Republicano Liberal) e, em 1935, pelo mesmo Partido, conquistou uma cadeira na Assembleia Estadual Constituinte.
Em outubro de 1937 – em plena vigência do Estado Novo, foi nomeado Prefeito de Porto Alegre e cumpriu um mandato exemplar. Foi aí que sua fama de “visionário” começou a se consolidar.
“Visionário” no sentido amplo do termo, isto é, “via e sonhava coisas futuras que ninguém julgava possível acontecerem”.
Em 1938, logo após a morte de Joaquim Francisco de Assis Brasil, Loureiro foi visitado por um grupo de dirigentes do PRL, que reinvidicavam, por parte de Porto Alegre, uma homenagem à altura da importância do recém-falecido “maragato”.
Loureiro debruçou-se sobre o mapa da cidade, apontou para uma rua que então era apenas uma estrada de pouco movimento e disse: esta rua aqui! Os libertadores reclamaram e alguém chegou a dizer “isto é coisa de chimango” (os adversários dos “maragatos”).
Ao que Loureiro rebateu: “os senhores estão enganados. Esta avenida ainda vai ser mais importante que a Borges de Medeiros”!
Hoje a Assis Brasil é uma das mais importantes e extensas ruas de Porto Alegre, a natural saída para a free-way e litoral e acesso prioritário para Cachoeirinha e para a Serra Gaúcha, entre outras cidades.
Um ano depois (1939), Loureiro não conseguiu convencer a Câmara de Vereadores a aumentar a largura da Av. Farrapos, que estava sendo concluída com apenas 30 metros. E ficou célebre seu argumento na ocasião: “vocês já imaginaram o tamanho que os caminhões terão no futuro”!?
Loureiro deixou a prefeitura de Porto Alegre em 1943; por solicitação de Getúlio Vargas, organizou o Partido Trabalhista Brasileiro em 1946 e retornou à política apenas em 1960, após o suicídio do seu amigo e grande líder.
Por esmagadora maioria de votos foi eleito Prefeito de Porto Alegre e pôde melhorar a cidade que sempre foi sua grande paixão.
Morreu de infarto do miocárdio, a 03 de junho de 1964, em plena rua da Praia, em frente à Praça da Alfândega.