Nos 32 meses que durou a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, o Estado mergulhou num clima de ódio e violência jamais visto nem antes, nem depois desta verdadeira Guerra Civil.
Iniciada pelo desejo de Poder, foi atiçada pela Constituição Positivista de 1891, escrita por Júlio de Castilhos, que acabou decidindo a divisão do Estado em dois blocos: quem era contra Júlio e quem era a favor dele.
Iniciada uma semana depois da posse de Júlio na Presidência do Estado (25.jan.93), a Revolução que seguiu-se à posse foi sendo alimentada por ódios reprimidos (resquícios ainda da Revolução Farroupilha), rancores e desejos de vingança (principalmente contra Júlio) e luta contra o desmando institucional (onde despontava o desagrado quanto à posse de Floriano Peixoto na Presidência da República).
O somatório de todos esses fatores explica, sem justificar, os desmandos que no RS resultaram em cerca de 10 mil mortes, boa parte delas pelo covarde método da degola, o que transformou a revolução num confronto de muitas vítimas e poucos prisioneiros.
Um dos principais combates aconteceu na localidade de São Gabriel, em Cerro do Ouro (27.ago.1893). A tropa, de cerca de mil homens do Gal. republicano Francisco Rodrigues Portugal, lutou contra as forças que tinham o dobro de combatentes, comandadas pelo “maragato” Gal. Luis Alves Leite de Oliveira Salgado e a participação ainda de Gumercindo Saraiva, Aparício Saraiva e Torquato Severo.
Um “show” estratégico foi montado por Gumercindo Saraiva, que obrigou as forças republicanas a se dirigirem até o local denominado Apertado – uma estreita passagem entre os morros, ideal para uma emboscada.
Os republicanos perderam 300 homens neste combate e ninguém jamais explicou o porquê da guarnição federal de São Gabriel, dotada de temível artilharia, permanecer nos quartéis, a poucos quilômetros dali.
O mais sangrento de todos os combates aconteceu na atual estação de Hulha Negra, em Bagé (28.nov.1893), o chamado Massacre do Ouro Negro. Os republicanos, comandados pelo veterano Marechal do Exército, Isidoro Fernandes, vitorioso contra Uribe, Rosas e na Guerra do Paraguai, contavam com cerca de 1.500 homens, uma força três vezes menor que os “maragatos”, comandados pelo Gal. Joca Tavares.
Além de ter um número bem inferior de combatentes, os republicanos ainda contavam, para chegar a esse número, com centenas de civis, provenientes de Piratini, Canguçu e Bagé e integrantes do Corpo Provisório da Cavalaria, praticamente sem qualquer experiência em combate.
Após um combate que durou várias horas, já sem munição e água, os republicanos renderam-se, mediante a promessa de um tratamento humanitário.
Cerca de 200 já haviam tombado no campo de batalha e outros tantos, todos militares, foram poupados. Os demais, cerca de 300, todos civis e integrantes do Corpo Provisório da Cavalaria, foram colocados em uma mangueira e degolados, restando-lhes apenas, como consolo, depois de terem a garganta cortada, caminharem até um mato próximo, para morrerem longe de todos.
Esses relatos praticamente dão a medida do que aconteceu nos demais combates, alternando-se as vitórias para um e outro lado, mas sempre com massacres, degolas e desmandos, de parte a parte.
A Revolução Federalista no RS começou a esmorecer em julho de 1894, com a derrota de Gumercindo Saraiva em Passo Fundo (RS), ocasião em que uma pesada artilharia acabou em poucas horas com o que a infantaria e a cavalaria “maragatas” haviam levado meses para tentar “erguer”.
A certeza de que o “incêndio estava apagado” veio mesmo a 24 de junho de 1895, no Combate de Campo Osório, onde foi morto, a golpes de lança, o almirante Luis Felipe Saldanha da Gama, líder da “Revolta da Armada” e que havia aderido à Revolução Federalista.
Daí ao último suspiro, em setembro de 1895, foi um desfile só de comemorações e também dos últimos desmandos.