Há cerca de 15 anos, um casal amigo decidiu-se por reduzir suas despesas mensais e pareceu-lhe que um dos caminhos seria retirar sua filha – então com 13 anos de idade – do colégio particular no qual estudava, transferindo-a para uma escola pública, localizada também na capital do estado onde residia.
Desde os primeiros dias no novo educandário, a filha passou a transmitir pequenos sinais de dificuldades de adaptação, pelo clima permissivo e menos respeitoso reinante entre os novos colegas e especialmente de parte destes para com os professores.
Um gesto de boas-vindas ao colégio, constante de uma asfixiação feita por um colega, foi considerada apenas como “exagero” de um “veterano”, comprovado pelas marcas dos dedos no pescoço da nova aluna, o que serviu como um perigoso sinal de alerta.
A gota que transbordou o copo foi uma aula na qual a professora, após ter feito uma descrição do planeta Marte, recebeu de um aluno a opinião de que havia uma semelhança entre o planeta e uma parte de sua anatomia, em comparação tão ofensiva e em palavras de tão baixo nível que a professora, ofendida e descontrolada, deu um tapa no aluno.
O caso foi levado imediatamente ao conhecimento da Diretora do Colégio, que tomou a decisão que lhe pareceu a mais correta: a mestra recebeu uma suspensão “exemplar”, enquanto o aluno, tanto quanto se soube, na ocasião, foi severamente advertido.
Por coincidência, ele era filho de influente integrante do Círculo de Pais e Mestres da escola.
O casal do qual lhes falo retirou a filha do colégio no dia seguinte e seu reingresso na escola anterior encerrou essa parte do assunto.
O que parecia, em princípio, ser pontual e, portanto, deslocado da realidade da época, foi suficiente para que se pudesse entender o confronto havido poucos meses depois, entre alunos do mesmo estabelecimento e desafetos externos, que resultou em uma morte por arma de fogo, ferimentos graves causados em outro aluno e uma grande repercussão na imprensa que, pela aparência, tendeu a culpar os criminosos externos, como parecia lógico.
Muito embora não seja apreciador de novelas, classifico-as como de grande importância quanto à delação e prevenção do que ocorre na sociedade. Atualmente, uma delas reproduz o que já acontecia em algumas escolas brasileiras, há quase duas décadas.
A falta de respeito existente na intimidade de algumas famílias, transfere-se para o colégio, onde não é raro acionarem-se sistemas de proteção para salvaguardar alunos e, em menor número, professores.
Há uma generalizada falta de educação em quase tudo no Brasil: quem é capaz de jogar uma lata de cerveja, de um ônibus em movimento, em plena rua, por exemplo, é capaz de agredir uma professora ou ferir seriamente um colega. As campanhas educativas são mínimas e os maus exemplos encontram-se até nos castelos de 25 milhões, nos celulares oficiais emprestados para familiares e nas contratações inexplicáveis de funcionários públicos desnecessários.
Respeitar, como?