Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet, mais conhecido como Jean Baptiste de Lamarck, viveu na França, há 250 anos, e muito embora essa distância no tempo e no espaço, veio dele o conjunto de teorias que possibilitaram formar uma noção mais lógica do que anda acontecendo por aí, ultimamente.
Em uma madrugada, há cerca de duas semanas, graças à enorme quantidade de notícias inconcebíveis do dia anterior, “caiu-me a ficha”, isto é, recuperei o poder de pensar com mais tempo e profundidade no que se tornou o mundo em que vivemos.
Duas notícias de estupro de crianças, a maior delas com oito anos, uma mulher havia matado o marido e fugido com o filho, seis assassinatos cometidos em nome não se sabe de que droga, todas as vítimas na idade mais verde da esperança, quatro acidentes na noite anterior resultando em postes e árvores abraçados a carros e gente, moça desaparecida há uma semana, pais desesperados, quarto vazio à espera de quem talvez não vá mais voltar…
Esse desfile de fatos reais mas inconcebíveis, era simplesmente a vida (?), mostrada a mim, como a todos, do único jeito que isso se torna possível – frio e real – recolhido por profissionais da notícia, muitos dos quais, imagino, abalados pelas brutalidades que foram obrigados a relatar e conviver.
Tudo isso trazendo, de carona, criminosos devolvidos às ruas por falta de celas que os recebam, políticos tidos como respeitáveis explicando o inexplicável e a população cada vez mais protegendo-se em casas gradeadas, abrindo mão da liberdade que deveria desfrutar.
Na ânsia de entender o porquê de todos nós estarmos nos acostumando a receber, sem revolta, essa coleção diária de atrocidades e desmandos, corri aos livros e à consulta virtual.
Foi quando descobri as duas leis de Lamarck, a 1ª, “do uso e desuso dos órgãos” e a 2ª, “da herança dos caracteres adquiridos”.
A 1ª, diz que os organismos desenvolvem seus órgãos segundo suas necessidades e outros se atrofiam, em decorrência do desuso. Segundo Lamarck, algumas características do organismo passam por transformações sucessivas até atender às necessidades do meio externo.
A 2ª, indica que as alterações que o organismo sofre, são transmitidas aos descendentes por hereditariedade, o que se confirma pelo hábito mas tem certa dificuldade de confirmação na relação DNA-RNA.
O 1º caso, fica plenamente demonstrado pela tese do crescimento do pescoço das girafas, cujas crias, ao longo dos séculos, foram herdando o pescoço comprido dos pais, teoricamente desenvolvidos ao comerem folhas das árvores mais altas, com as novas espécies, aos poucos, apresentando desvios na linha evolutiva.
O 2º caso, que trata de hábitos e costumes transmitidos por hereditariedade, ainda hoje se discute, mas é uma saída lógica para o final desta crônica.
Só mesmo Lamarck e suas teorias são capazes de explicar como podemos ler, sem ter um colapso, todas as notícias referidas antes, sem ao menos questionar, com veemência, todas as agressões feitas à Constituição, desrespeitada tanto nos Direitos quanto nas Obrigações. Nosso coração e nossa mente estão sendo atrofiados pelo desuso, para melhor se adaptarem aos costumes e aos novos tempos.
Confio que a Presidenta Dilma Rousseff use a experiência que a fez chegar ao Cargo, para deixar claro ao país que sua economia e sua posição no mundo não são mais os mesmos e precisa haver um comprometimento de todos com as conquistas já feitas e as que ainda estão a caminho.