Na história recente da cadeia de produção leiteira não há registros de variações tão extremadas no preço do produto como se tem visto neste ano. Após alguns meses de aumentos surpreendentes, tanto para o produtor, quanto para o consumidor, a frustração não tardou a aparecer, pois de julho a setembro o preço do leite pago pelas indústrias apresenta redução de cerca de quarenta centavos no litro.
No momento em que o preço do leite tornou-se atraente, o produtor arriscou fazer investimentos na sua propriedade para qualificar a produção, nos aspectos de quantidade e sanidade, com boas perspectivas de resultados positivos e compensatórios, viabilizando economicamente a atividade. Poucos podiam imaginar que a decepção viesse em tão pouco tempo, comprometendo a sobrevida de muitos estabelecimentos.
Não lembro se já houve, em épocas passadas, uma atitude de reação tão intensa como as mobilizações que estão acontecendo no momento. Sindicatos, cooperativas e indústrias estão se aliando aos produtores para encontrar saídas que auxiliem na superação do quadro crítico.
Na busca dos motivos que geram esta atual crise do setor leiteiro, há quase um consenso, uma unanimidade em indicar a importação de leite em pó como fator principal. Segundo dados estatísticos, o volume de leite importado neste ano de 2016, é praticamente 80% maior do que as importações registradas em igual período no ano anterior.
A partir desta realidade, os setores que mais sentem os prejuízos não hesitam em afirmar que a superação deve ser buscada no campo político. Toda a pressão deve ser dirigida ao governo federal, cobrando uma posição firme no sentido de que as autoridades brasileiras adotem “cotas de importação”, protegendo assim a produção nacional.
A indústria brasileira tem hoje grandes estoques de leite em pó e não consegue competir com os preços do produto importado, contribuindo para tanto à nossa distorcida política tributária, com a concessão de benefícios às aquisições externas.
Jovens desmotivados
A crise do setor leiteiro tem muito a ver com a sucessão familiar na propriedade agrícola, lembrando a permanência do jovem agricultor na atividade da produção primária.
Mesmo que tenhamos a característica de atividades diversificadas na nossa agricultura familiar, o leite tem um peso significativo no enfoque social e econômico na região. Percebe-se a força jovem presente nessa cadeia, mas se não houver uma rápida reversão deste quadro de dificuldades, será pouco provável que tenhamos estímulos suficientes para convencer os novos produtores a permanecerem no meio rural.
Para os mais otimistas fica a convicção de que a superação da crise do setor de leite não acontecerá em menos de dois a três anos. Por isso mais uma vez será indispensável a intervenção do governo federal, criando, talvez, uma linha de crédito para a manutenção da atividade, bem como uma prorrogação das dívidas dos produtores, evitando que eles tenham que vender animais para quitar compromissos bancários, oriundos de empréstimos anteriores.
Não é difícil a gente se colocar na posição do produtor que, fazendo as contas, constata que o custo de produção do litro de leite está praticamente acima do valor recebido das indústrias. Inexiste uma receita mágica para a diminuição dos custos, quando os insumos básicos da atividade continuam crescendo, como é o caso da ração, emergia, combustível, assistência veterinária, despesas com os processos de licenças ambientais entre outras.