Para o merecido e devido registro preciso voltar um pouco ao tema principal da coluna da semana anterior, quando fiz um comentário sobre as mobilizações do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais contra as anunciadas mudanças na Previdência Social, conforme Projeto de Lei encaminhado ao Congresso Nacional, em forma de Proposta de Emenda Constitucional – PEC.
Em dezenas de cidades gaúchas os trabalhadores rurais demonstraram, de forma ordeira e organizada, o seu desapontamento e inconformismo com o propósito do Governo Temer. As concentrações focaram as agências da Previdência Social e em todas elas os líderes sindicais entregaram um manifesto, um documento, expressando a não concordância com as alterações, com as devidas justificativas.
Sabe-se que há um grupo de deputados e senadores que formam a denominada Frente da Agricultura Familiar, tomando uma posição de defesa dos interesses da classe dos agricultores familiares.
O projeto de mudanças teve até o momento um primeiro passo dentro do processo ou do rito de tramitação no Congresso. Uma Comissão decidiu “acolher” a matéria, decisão importante para que ela siga, posteriormente, as demais ou sucessivas etapas, até a sua aprovação, sanção e vigência.
Tudo indica que nos próximos dois meses não ocorrerá nenhum fato novo em relação ao assunto e não restam dúvidas de que o próximo ano, de 2017, será de intensas mobilizações e será um momento decisivo para a sobrevivência da pequena propriedade rural.
E por falar em sobrevivência ou ainda em sucessão familiar, no setor da produção primária, preciso compartilhar o teor de uma conversa, há alguns dias, quando um pequeno grupo de agricultores comentava sobre as perspectivas futuras das atividades rurais. Em um breve exercício de memória, as pessoas que participaram da roda de conversa, tentavam lembrar dos jovens agricultores de uma determinada comunidade. A realidade é assustadora. É muito reduzido o número de trabalhadores rurais jovens, digamos até abaixo de 50 anos. Provoco os leitores no sentido de cada qual fazer uma sondagem de sua localidade ou proximidades e aí olhar para o futuro da categoria.
Pois, se os governantes continuarem a não valorizar o trabalhador rural corremos o risco de termos uma agricultura familiar com os dias contados. O desestímulo cresce mais e mais e as políticas para o campo não atraem os jovens e o interior depara-se com uma população perdendo a sua força de trabalho, consumida pela idade que avança.
Será que o Menino Jesus quer um Natal assim?
Fazemos de conta que o Menino Jesus não lê jornais, não escuta rádio e não assiste aos noticiários de televisão e tampouco curte as redes sociais. Chega no dia 24 e depara-se com um Brasil mergulhado em uma grande crise política, econômica e de quase convulsão social. Encontra um cenário deplorável onde autoridades perderam a credibilidade e o respeito por se envolverem em ações desonestas, corrupção sendo moda e o povo tendo que pagar as contas dos “ladrões de colarinho branco”.
No Rio Grande do Sul o Menino Jesus conhecerá os “campos de batalha”, um grave enfrentamento entre categorias de trabalhadores com governantes que não tem mais o que fazer, porque o Estado está desequilibrado e desajustado há quase 50 anos.
Possivelmente o Menino Jesus não se sentirá atraído para vir e comemorar conosco o Natal tão tumultuado. O Menino de Belém mereceria uma acolhida diferente, em um clima de Paz, de Justiça, Igualdade, com mais compreensão e fraternidade, menos ganância e muito menos abusos de poder.