Integrei de 27 de novembro a 5 de dezembro um grupo de viagem que passou uma semana em Cuba, organizado pela Arroio Tur há cerca de três meses. O que seria uma semana normal de férias acabou sendo um evento histórico porque coincidiu com os funerais do líder cubano Fidel Castro que morreu aos 90 anos no dia 25 de novembro, as 22h29min – horário cubano (três horas de fuso horário em relação ao nosso).
Enquanto estávamos finalizando as malas, soubemos da notícia e inicialmente havia uma expectativa do que encontraríamos ou se a programação seria mantida nos dois destinos previstos: Havana e Varadero, – um balneário com resorts e hotéis, no município de Cárdenas, província de Matanzas.
Nossa programação não sofreu grandes alterações. Mas diante da decretação de luto que durou todo o tempo que estivemos no solo cubano fomos privados de assistir ou apreciar a música, shows e espetáculos muito conhecidos e populares. Também houve alteração no trânsito.
Em compensação assistimos de perto ou pelos canais de televisão oficial, o culto que o povo cubano tem com seu líder Fidel Castro, que governou o país de 1959 a 1976 como ministro e posteriormente até 2006 como presidente quando entregou o cargo para seu irmão Raul Castro. A despedida iniciou na Praça da Revolução, no Memorial a José Marti, dia 28, local próximo ao nosso hotel. Durante todo o dia centenas de pessoas foram até o local para as despedidas. Empresas, escolas e organizações trabalharam normalmente mas todos seguiram a orientação de fazer a despedida em profundo silêncio. Depois de dois dias em Havana, as cinzas cruzaram o país (em todos os locais as pessoas se aglomeravam na rua para ver o cortejo passar e acenavam com bandeiras) até Santiago de Cuba onde foram guardadas no domingo de manhã.
O ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff muito admirados pelo povo cubano estiveram próximos ao presidente Raul Castro durante o discurso de despedida em Santiago de Cuba, no sábado à noite. Vimos pela televisão local. No meio da multidão entre as bandeiras cubanas uma de outro país, a do Brasil, no sábado à noite.
Futuro – O que todos se perguntam agora é como será o futuro de Cuba sem a influência forte do líder Fidel Castro, que implantou na ilha um sistema único e diferente em relação aos outros países da América Latina. Para nosso grupo, ficou a impressão de que o país parou no tempo o que é visível nas construções, carros, obras de infraestrutura, tecnologia e principalmente na qualidade dos serviços. Conversando com alguns cubanos eles disseram que acreditam no regime único e castrista (segurança, saúde, educação) mas são favoráveis a uma maior abertura da economia para atender e dar oportunidade de trabalho a centenas de jovens cubanos. Entre as bases para fortalecer a economia eles apostam principalmente no turismo e nas pesquisas na área da saúde, com vacinas para a cura do câncer. Como moeda de troca também tem açúcar, petróleo e níquel. Porém tudo depende de como serão os próximos passos e qual a capacidade de investimento, bem como a defesa em relação a outros países, uma vez que Cuba é uma ilha geográfica mas também é uma ilha como modelo político. O tempo dirá.
Instabilidade e exaustão
O que sinceramente me preocupa é que o Estado Brasileiro é muito inchado e voraz. São milhares de empregos em órgãos públicos, autarquias que tem muitos privilégios. A disparidade é muito grande na relação produção, produtividade e custo com a iniciativa privada de um modo geral. Seremos chamados à exaustão para dar conta de pagar pelas burradas que a nossa elite cometeu. Estamos no fundo do poço depois de mais de duas décadas perdidas em termos de má gestão de recursos públicos, irresponsabilidade nos gastos e corrupção. E a propósito, quem já cortou na carne no andar de cima nos municípios, estados e União? A conta está sendo rateada pelas classes trabalhadoras e pelas empresas que geram empregos que tem que trabalhar cada vez mais, o que sabemos tem um custo muito alto, até para a saúde coletiva. E não sabemos quanto tempo levaremos para que possamos chegar a um equilíbrio.
Previdência polêmica
A proposta de emenda constitucional alterando a Previdência enviada ao Congresso esta semana é polêmica. Entre as regras, a idade mínima para se aposentar será de 65 anos, e para ter direito à aposentadoria integral a contribuição terá que ser por 49 anos. A votação será no ano que vem mas deve gerar muita polêmica pela complexidade da matéria, pela diversidade de cálculos e diferentes categorias profissionais. É preciso entender também que terá que ter uma unificação maior entre a previdência do trabalhador público e privado.
Crise institucional ou garantia de privilégios?
Todas as semanas novas turbulências. Esta semana foi a vez de Renan Calheiros, com apoio da Mesa do Senado, dar as costas para uma liminar do Ministro Marco Aurélio Mello, que lhe afastaria da presidência. Renan tem 11 processos no STF e é réu em uma ação penal na Corte. Na quarta-feira o STF “voltou atrás”, derrubando a liminar de Marco Aurélio e a decisão do Senado de ignorar uma medida. Então vamos à interpretação que fica para a maioria da população. Os poderes na instância maior se protegem, passam por cima da lei, que vale para uns e não para todos. Renan Calheiros conseguiu mais um acordo passando por cima da lei e o Supremo Tribunal Federal, pela decisão pareceu mais interessado em proteger seus interesses e não perder privilégios.
Segurança e altos salários
Já são três os estados que decretaram estado de calamidade pública. Rio de Janeiro, Minas Gerais, e Rio Grande do Sul. Definitivamente precisa acabar este hábito de empurrar as contas com a barriga. Ora, se somos uma das nações que paga os mais altos impostos do mundo, portanto com grande fluxo de caixa; se a nossa democracia permite que os órgãos públicos através de concursos ou cargos de confiança possam empregar as pessoas mais competentes e qualificadas; se temos um batalhão de deputados que custam os “olhos da cara”; se temos um Judiciário com as melhores “cabeças” porque então estamos à beira falência e o povo novamente é chamado para pagar a conta?
Esperanças futuras
Não se pode dizer que está tudo ruim e que não há luz no fim do túnel. Existem iniciativas muito importantes como a batalha contra a corrupção liderada pelo juiz Sério Moro. Muitos municípios do interior do Brasil em grandes e pequenas cidades são verdadeiro exemplo de serviço público. Realidades são transformadas por boa gestão de recursos e há projetos de baixo custo e muito criativos que engajam a população a uma maior autonomia.