Mudam os tempos. Mudam os gostos. Até os pecados podem mudar o nome e endereço.
*****
Não sei se você ainda lembra da perseguição de que as máquinas de calcular foram vítimas. Era ter-mi-nan-te-men-te proibido usá-las na escola. Pensava-se que elas reduziam as funções cerebrais. Parecia muito importante saber calcular de cabeça, no máximo, usando papel. Se a gente deixasse as máquinas trabalharem por nós, acabaríamos uns burros completos. E elas reinariam soberanas. Tomariam conta do mundo. O homem acabaria seu escravo.
*****
E o que dizer das revistas em quadrinhos? As perspectivas eram medonhas. Os fãs dos quadrinhos acabariam mais patetas ainda. Era preciso ler páginas de texto em vez de olhar as imagens. Sem isso, a inteligência entraria em colapso.
Fotonovelas, então, nem pensar. Além de sofrer do mesmo mal dos quadrinhos, juntava-se um agravante: elas eram obscenas. Podiam mostrar situações impudicas. Por exemplo, casais abraçados, fotos de beijos. As fotonovelas agrediam a moral, atentavam contra a decência.
Fotonovela era coisa para ler escondido, portanto.
*****
Se continua verdadeiro afirmar que a escrita correta é bom exercício para a cabeça, pois envolve uma soma complexa de conhecimentos, o fato é que pouco escrevemos. (Nem é preciso dizer que treinos de caligrafia foram parar no museu.) As canetas talvez peguem o mesmo caminho da máquina de escrever. Como instrumentos de escrita pouco sobrou além de celular e computador.
Mas escrever o quê hoje em dia? Cartas saíram de moda. Modelos de documentos se podem pescar na internet. Até os e-mails estão perdendo terreno. Agora reina o Whatsapp e ali só cabem frases brevíssimas. Nem acentos, nem pontuação – o corretor automático ocupou o nosso lugar.
E será que o mundo vai pras cucuias?
*****
Então voltemos à pergunta do título. Seria o caso de pedir indenização pelos tormentos que foram impostos e que, depois, se mostraram gorados? Seria de indenizar culpas criadas e aflições curtidas em vão?
Como podemos ser compensados por sofrimentos que hoje parecem quase ridículos?
Pior: pedir indenização para quem?