Depois do trabalho à frente da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), a professora arroio-meense Greicy Weschenfelder segue na busca por aperfeiçoar a área que escolheu para trabalhar. No final de janeiro assumiu a Secretaria Municipal de Educação de Encantado, a convite do prefeito Adroaldo Conzatti (PSDB) e trabalha para que as escolas do município possam oferecer uma educação ainda mais qualificada.
Na quarta-feira viajou para São Paulo capital com o prefeito e a engenheira do município, Ana Delsa Tronco Civardi, no intuito de conhecer experiências educacionais que deram bons resultados. Dentre os locais visitados, destaque para a Fundação Lemann e o Instituto Ayrton Senna, que desenvolve um trabalho voltado às competências sócio-emocionais.
Esta é a segunda vez que a secretária e o prefeito viajam em busca de inovações para a educação de Encantado. Em fevereiro Greicy, o prefeito Adroaldo Conzatti, o presidente da Câmara de Vereadores, Luciano Moresco e a procuradora do município ,Michele Camargo, estiveram em Sobral, no Ceará, para conhecer o trabalho que faz do município de 200 mil habitantes o melhor em educação básica no Brasil.
Do Nordeste, Greicy voltou entusiasmada. Percebeu que a cidade respira educação e que há muitas iniciativas simples que podem ser adotadas em Encantado e em outros municípios. “As pessoas têm orgulho de morar no município que tem a melhor educação do país”, ressalta. Dentre as diferenças positivas em relação à Sobral, elenca o foco nas disciplinas de Português e Matemática e uma prova de avaliação aplicada duas vezes ao ano com todas as séries. “Eles entendem que se os alunos vão bem em Português e Matemática, que primam pela escrita, leitura, interpretação e o raciocínio lógico, automaticamente vão ir bem em outras disciplinas”, afirma.
Os professores cujas turmas alcançam a meta das provas de avaliação recebem uma gratificação em dinheiro. Já os diretores, só recebem o valor se todas as turmas da escola ficarem dentro do resultado pretendido. Greicy acha um modelo interessante, pois é um estímulo aos professores. Outra particularidade de Sobral é que os diretores são escolhidos por meio de seleção. “O prefeito nos disse que política partidária e educação não combinam, por isto é feita uma seleção com prova, análise de currículo e entrevista”.
Uma das ações vistas no Ceará e já adotada em Encantado é a tabela de frequência, que faz o controle dos alunos faltantes em todos os dias letivos. “No primeiro dia que o aluno falta de forma injustificada a escola liga para a família, no segundo a diretora vai até a casa do aluno e no terceiro dia de falta acionam a Promotoria. Em Sobral eles entendem que o aluno não deve perder nem uma hora de aula, que dirá um dia. Quando um aluno não vai para a escola ele perde todo um planejamento pedagógico pensado no seu aprendizado”.
Encantado
Ao assumir a pasta da Educação em Encantado, Greicy diz que surgem novos desafios. Esta é a primeira vez que está à frente de uma secretaria e aceitou o convite do prefeito porque acredita que é possível fazer a diferença na educação. “O prefeito Adroaldo tem muita visão e sempre quer melhorar a educação e isso me estimula muito”, pontua.
A secretária ressalta que a realidade de uma secretaria municipal em relação à CRE é muito diferente. No município são 15 escolas e cerca de 2 mil alunos, enquanto que a CRE respondia por 89 escolas. “Os desafios de Encantado são menores, mas os impactos são maiores. Hoje uma decisão minha impacta diretamente na comunidade. São coisas diferentes, mas todas convergem para a educação, que é uma área pela qual sou apaixonada”.
Futuro da educação
Greicy critica a forma como o Ministério de Educação vem conduzido algumas questões, a exemplo da Base Nacional Comum Curricular. Acredita que faltam orientações precisas e isso prejudica a educação como um todo.
Um dos pontos incluídos na Base, e que ela acha importante, são as competências sócio-emocionais, que também integram o Referencial Curricular Gaúcho. “É o futuro. Precisamos trabalhar na escola valores como solidariedade, empatia, respeito”, defende, salientando que as políticas públicas voltadas à educação não podem ser mudadas quando entra um novo governo. “Fico triste porque vejo que a coordenadora estadual da Cipave não está mais no cargo e que o programa saiu da Educação e foi para a pasta da Segurança. Torço para que a semente Cipave não se esvaia”.
Ao avaliar a educação como um todo, Greicy ressalta que a sociedade, trabalhadores, alunos, famílias e gestores precisam valorizá-la mais. “Temos que criar a cultura da educação”. Para isto, é preciso ver a escola como um templo sagrado. Lamenta que uma série de fatores, como a falta de visão e de investimentos por parte dos gestores públicos, nas três esferas, associada com a desvalorização do professor, a desestrutura familiar e o excesso de métodos e pedagogias, tenham criado uma esfera desafiadora para a educação. “A educação, a escola, teve de fazer de tudo, abraçar projetos que não são de sua incumbência e isto não é positivo”, afirma, observando que há sobrecarga na escola que, às vezes, não consegue dar conta da sua principal função: ensinar. “O simples dá certo. Precisamos focar no que é de competência da escola. Não adianta abraçar vários projetos. Menos é mais. É o simples, com amor e essência que dá resultados”.