O Brasil tem mais de 800 mil presos e em diferentes regiões do país, rebeliões, massacres, mortes violentas, são cada vez mais frequentes. No comando de toda a violência estão as facções que saíram dos eixos Rio e São Paulo e se expandiram para todos os estados. Muitos municípios menores têm núcleos e braços das grandes facções, o que justifica a denominação de crime organizado. Muitas operações são comandadas de dentro dos presídios. A falta de políticas públicas adequadas, impunidade, poucos investimentos em segurança, educação, fez com que o crime se tornasse cada vez mais compensador principalmente de 1990 para cá.
Em julho, a ONU divulgou relatório anual, sobre taxas de homicídios intencionais, no mundo. A América Central e América do Sul aparecem com as taxas mais altas. Com 25,9 a 24,2 assassinatos a cada 100 mil habitantes. O Brasil aparece como o segundo mais violento da América do Sul, com 30,5 mortes, acima da média regional, superado apenas pela Venezuela, que passa por uma crise interna grave e que passou de 13 a 56,8 homicídios por 100 mil habitantes. Em relação ao continente, quem deu uma virada foi a Colômbia, que obteve uma queda nos homicídios (foi de 80 para 30) atribuída ao combate ao tráfico de drogas feito de forma sistemática nos últimos 30 anos.
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Do colarinho branco, envolvendo corrupção ao tráfico de armas e drogas e toda uma série de assaltos, roubos, furtos e mortes violentas, atingindo minorias, mulheres ou vulneráveis, nas ruas, cidades, campos, nas casas, ou trafegando de forma oculta pelas redes sociais, a segurança pública continua sendo um grande desafio em nosso País.
Em sete meses de governo, o Ministro Sérgio Moro, que se tornou notável pela condução dos processos da Lava Jato ainda não conseguiu consolidar um novo tempo na área da Segurança e Justiça. O projeto anticrime, enviado ao Congresso no início do governo está tramitando de forma lenta. Deve haver interesses por trás deste atraso. Nos últimos dois meses, o super ministro está no centro de conversas hackeadas e vazadas com finalidades obscuras. Até agora nada de ilegal foi encontrado. Mas atrapalham a agenda do Ministro que tem que dar explicações no Congresso e assim por diante, e não faltam os que querem sua saída, como se criminoso fosse, depois de todo o trabalho feito como juiz no combate à corrupção. Este é apenas um dos retratos de um país que está bastante dividido e ainda sob polarização. Polarização que aumentou porque passamos por governos de esquerda para um de direita. Nesta mudança, há uma grande expectativa de rupturas com políticas adotadas durante os governos recentes com seus apoiadores para uma nova proposta política. Na prática, não está sendo tão fácil, até porque mudanças só se consolidam de forma gradual.
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Como vivemos um país democrático, com imprensa livre, mesmo que o governo e principalmente o presidente Jair Bolsonaro centralize polêmicas, nas quais tenta falar com parte do seu eleitorado, há ganhos por conta de um Congresso mais independente, mais soberano do que foi durante os governos Lula, Dilma e Temer. Há indicações de que os deputados estão mais atentos aos recados dos eleitores e como o governo deixou de negociar cargos e favores com os partidos, a democracia saiu fortalecida. Saímos de um círculo vicioso e se abriu espaço para o debate de projetos em torno do coletivo, a exemplo do que vem ocorrendo com a reforma da Previdência. Alguém pode perguntar: mas isto não tem nada a ver com o tema segurança pública e justiça social. Acreditamos que tem muito a ver. Porque num país como o nosso, de tamanhas possibilidades, oportunidades, riquezas naturais, é fundamental que os homens e mulheres que estão à frente de cargos nos poderes constituídos ( Executivo, Legislativo, Judiciário) o façam com ética e caráter. É claro que não pode haver excessos em nome da lei, mas os tempos estão a exigir muita coragem, firmeza e, ao mesmo tempo, comprometimento, sabedoria e experiência.