Aos 87 anos de idade, Antônio Meneghini olha com orgulho para sua história de vida. Nascido em Coqueiro Baixo e criado em Nova Bréscia, numa época em os municípios ainda integravam o território de Arroio do Meio, alicerçou sua trajetória em cima dos pilares da família, trabalho e superação. De uma família de 11 irmãos, sendo quatro falecidos ainda criança, teve de amadurecer cedo. A mãe Celestina faleceu no parto, junto com o 11º filho. O pai João ficou sozinho para criar os filhos e tocar o negócio da família, que trabalhava com serraria, ferraria, alambique, parreira e uma grande criação de suínos.
Com a morte precoce da mãe, as crianças começaram a trabalhar cedo. A realidade era dura, em todos os sentidos. A serraria rendia um bom dinheiro, mas o trabalho era pesado. As toras eram derrubadas com serrote, tiradas da mata com a ajuda de animais e transportadas em carroças. As serras eram impulsionadas com a força de uma roda d’água e, quando tinha água em abundância, a família aproveitava e trabalhava também à noite.
Pouco tempo depois de ficar viúvo, o pai casou-se com outra mulher. O que era para ser um alento, principalmente para os menores, tornou-se uma angústia ainda maior. Segundo Antônio, o pai fez um casamento ruim. A madrasta tratava muito mal os sete irmãos. Não demorou muito para o pai, que era um homem de posses, vender a serraria. Depois, foi adoecendo e faleceu.
Os irmãos ficaram ainda mais fragilizados. Mas mantiveram-se unidos. Eugênio era o mais velho. Quando o pai morreu e a madrasta foi embora com boa parte dos recursos da família, assumiu a liderança do grupo. Antônio, Daniel, Clementina, Lourdes, Amábile e Élia o respeitavam como se fosse um pai. “Muitas famílias queriam pegar as meninas, que eram as mais novas, para criar. Mas nós não deixamos. Mantivemos nossa família unida e juntos fomos superando. Não foi fácil, trabalhamos muito, mas no fim deu tudo certo”.
Antônio lembra que a irmã Clementina, com seus 11 ou 12 anos, cozinhava para os irmãos. “Colocava a comida na mesa e saía, com medo que nós íamos reclamar que não estava bom. Mas nós nunca reclamamos. Sempre nos ajudamos muito”, afirma. Lembra que as perspectivas mudaram quando o irmão Eugênio casou. “A Ercolina era uma rica de uma pessoa. Foi muito mais que uma mãe para nós”.
O tempo passou, e os irmãos foram fazendo suas vidas. Ao servir o Exército, em Santa Maria, Antônio teve a oportunidade de fazer carreira militar. “Queriam que eu fosse para a escola de cadetes, no Rio de Janeiro. Mas eu pedi para ser dispensado, queria voltar para casa para ficar perto dos meus irmãos”. Voltou para o interior.
Em determinado período, surgiu a “febre” do caminhão. O primogênito Eugênio, junto com um sócio, adquiriu um Alfa Romeo e mudou-se para Arroio do Meio para fazer fretes. Não demorou muito para que Antônio, que no quartel fora promovido a cabo e tinha sido motorista de tanque de guerra, fosse chamado para trabalhar no ramo de transporte.
Lembra que quando se estabeleceu em Arroio do Meio, há cerca de 50 anos, quando já estava casado com Iracema e tinha três filhos, o centro do município era um povoado, com poucas construções. Tinham primos e tios que moravam na sede e conheciam algumas famílias, vindas do então distrito de Nova Bréscia. Logo se entrosaram na comunidade e fizeram novas amizades. De início residiram em Bela Vista e, depois, construíram no Centro, onde vivem até hoje. Assim como Antônio, os irmãos também saíram de Nova Bréscia. Com exceção de Élia e Lourdes, todos se estabeleceram em Arroio do Meio.
No caminhão, Antônio trabalhou em várias frentes. Por anos atuou na elevação da base de estradas para asfaltamento, a exemplo da ERS-130. Mas foi no ramo da gastronomia e hotelaria que fez sua vida profissional. Ele e a esposa Iracema, casados há 64 anos, empreenderam em Arroio do Meio e em outros municípios. Tiveram restaurante, lancheria ou hotel em Lajeado, Carazinho, Porto Alegre, Canoas, Guaíba, Barra do Ribeiro e Rio Grande. Contam que foi um período de muita dedicação, com horários estendidos e que os filhos Antoninho, Arli, Ariberto e Adriana sempre ajudaram.
Depois de décadas de dedicação aos negócios, e também em função dos problemas de saúde, Antônio e Iracema decidiram que era hora de parar. Perceberam que tinham adquirido um grande patrimônio, mas que era preciso tempo e saúde para desfrutá-lo. Hoje passam a maior parte do tempo em casa. Gostam de tomar chimarrão e conversar. Antônio tem um carinho especial pelos pássaros. Tanto, que há anos possui um espaço onde todos os dias coloca ração e fica observando a forma como se alimentam. Defende que todos os pássaros devem ser livres e que ninguém tem o direito de aprisionar ou matar os animais.
Uma das paixões de Antônio é a gaita. Faz questão de tocar todos dias e seu maior prazer é tocar enquanto observa os passarinhos. Quando mais jovem animou muitos bailes e casamentos. Nos 10 anos em que foi capataz da invernada artística do CTG Querência do Arroio do Meio, e esteve muito envolvido com o tradicionalismo, conquistou mais de 40 prêmios nas categorias gaita tecla e gaita ponto.
Se no passado a vida social foi intensa, hoje o casal raramente deixa a residência. Os filhos e os nove netos são presenças rotineiras na casa, especialmente nos fins de semana. Há pouco mais de um ano nasceu a primeira bisneta, no dia do aniversário de Antônio, deixando a família ainda mais alegre. No dia a dia também contam com a dedicação e o bom humor de Geni, que trabalha com a família há quase 10 anos.
Antônio diz que seu maior feito foi ter deixado uma boa educação para os filhos, fundamentada em bons valores. Passou o que recebeu dos pais. Embora tenha convivido com os genitores por pouco tempo, tem certeza de que foram os ensinamentos aprendidos em casa que nortearam a vida dele e dos irmãos e deram força para seguirem no caminho do bem.